"Si lo puedes soñar, lo puedes lograr"

Está dado o pontapé de saída para mais uma edição da Taça dos Libertadores! A mais importante competição de clubes da América do Sul arrancou na última noite com os encontros da primeira fase, após a qual ficarão conhecidas as seis equipas que irão completar a fase de grupos, entretanto já sorteada. Uma dessas equipas é o Independiente del Valle, do Equador, que irá medir forças na próxima quinta-feira, com o Guaraní, do Paraguai, a grande revelação da edição anterior. Depois de se estrear na competição em 2014, o autodenominado “Futuro Campeão do Equador”, procura a segunda presença na fase de grupos, depois de ter esbarrado na última temporada, na primeira fase, diante do Estudiantes de la Plata, da Argentina.

Fundado em 1958, na cidade de Sangolquí, nos subúrbios da capital Quito, o clube, cujas cores e o seu emblema se assemelham aos do Inter de Milão, permaneceu nos escalões inferiores do futebol equatoriano até 2009, ano em que conquistou a segunda divisão e o direito de disputar a Série A pela primeira vez na sua história. Nas duas temporadas seguintes, o Independiente del Valle sofreu para se manter no primeiro escalão, repetindo o 10º lugar em ambas, o primeiro imediatamente acima da linha de água.

Depois de uma campanha sensacional na Primeira Etapa, em 2012 - o equivalente a um Torneio Apertura, na qual o clube azul e negro terminou na 4ª posição, a apenas um ponto da liderança, um arranque em falso na Segunda Etapa, com sete derrotas nas primeiras 12 jornadas, ditou o despedimento de Carlos Sevilla, no clube desde Abril de 2011. Para o seu lugar, a direcção do clube apostou em Pablo Repetto, de 38 anos, que em 2006, havia colocado um ponto final na sua carreira de futebolista profissional devido a uma grave lesão. No seu currículo, o técnico uruguaio já contava com um título da segunda divisão uruguaia, em 2007, ao serviço do Fénix, e um Torneio Apertura, conquistado em 2010 com o Defensor Sporting.

Hoje em dia, e após seis temporadas na primeira divisão, o Independiente del Valle é um dos clubes mais fortes do país, e embora não possua os argumentos financeiros, nem o peso histórico de Emelec, Barcelona ou Liga de Quito, o “Futuro Campeão do Equador” nunca esteve tão próximo de concretizar o slogan que o catapultou para os seus sucessos mais recentes. Prova disso são os dois segundos, um terceiro e um quarto lugar obtidos desde que Repetto assumiu as rédeas da equipa.

O campeonato nacional do Equador é um dos mais competitivos da América Latina, de tal forma, que ao longo da sua história se estabeleceu um duopólio entre os emblemas mais representativos das duas cidades mais populosas do país: Guayaquil e a capital Quito, que concentram mais de 20% da população total do país. Assim, Barcelona de Guayaquil (14), Emelec (13), El Nacional (13), Liga de Quito (10) e Deportivo Quito (5), repartem entre si, 53 dos 58 títulos da primeira divisão. Tudo isto para compreender a difícil missão do Independiente del Valle, que tem construído a sua própria história com um projecto muito ambicioso e arrebatador. Mas para o entendermos melhor, precisamos de recuar até 2006.

Nesse ano, o crescimento económico e populacional na região do Valle de los Chillos, e a ausência de um emblema representativo na primeira divisão, levaram um grupo de empresários locais, entre os quais, o actual presidente Franklin Tello, e vice-presidente da Kentucky Fried Chicken (KFC) – a famosa cadeia de restaurantes fast-food norte-americana, no Equador, a investir no clube. E a primeira medida deste grupo foi a construção de uma academia de formação, designada de Centro de Alto Rendimiento. Este complexo possui sete campos de futebol e estende-se por mais de 12 hectares.

Todos os dias, mais de uma centena de jovens levanta-se às 7h15 da manhã para tomar o pequeno-almoço, antes do primeiro bloco de aulas do dia. Na academia, são seis as disciplinas leccionadas: matemática, línguas e artes, ciências, informática, inglês e estudos sociais. Todos os atletas são submetidos a um período experimental de três meses, sendo que a grande maioria é proveniente das cidades de Guayaquil e Esmeraldas. O clube dedica todas as temporadas 30% do seu orçamento anual para a formação. Os salários variam entre os 20 dólares, nos sub-12, e os 400, nos sub-18.

Até ao momento, os resultados na formação têm sido impressionantes. A nível interno, o Independiente del Valle tem dominado quase em absoluto todas as categorias. Em 2015, o clube sagrou-se campeão nacional em todos os escalões de formação (sub-12, sub-14, sub-16 e sub-18), juntando-lhes o título no campeonato de reservas, que lhe valeu o apuramento para a terceira edição da Taça dos Libertadores de Sub-20. Desta forma, o Independiente del Valle tornou-se no único clube da CONMEBOL a fazer o pleno, depois de participar na primeira e segunda edições, disputadas em 2011 e 2012.

No último Mundial de Sub-17, disputado nos meses de Outubro e Novembro no Chile, o Independiente del Valle foi, com cinco jogadores, e a par do Norte América, o clube mais representado na convocatória da equipa equatoriana, que igualou a sua melhor prestação de sempre com uma presença nos quartos de final da competição. Em Junho, foram quatro os jogadores convocados pelo seleccionador principal para a Copa América. Só o Emelec, com sete jogadores, colocou mais entre os eleitos de Gustavo Quinteros.

Desde a sua criação, foram vários os jogadores de primeira linha que passaram ou completaram a sua formação neste complexo de alto rendimento. Dos “mundialistas” Jefferson Montero e Carlos Gruezo, antigo jogador do Estugarda, a Cristian Ramírez, lateral esquerdo que se transferiu para o Ferencváros, da Hungria, depois aventuras no Fortuna Düsseldorf e no Nuremberga, passando ainda pelo extremo internacional Jonathan González, que trocou o Independiente del Valle pelo Leones Negros, do México, no início de 2015.

Anteriormente denominado como Independiente José Terán – antigo líder durante os anos 70, em 2014, o Ministério do Desporto aprovou a mudança oficial do seu nome para Club de Alto Rendimiento Especializado Independiente del Valle. Habitualmente disposto num 4-2-3-1, o clube disputa os seus encontros no estádio Rumiñahui, com capacidade para 7500 espectadores, mas apesar da empatia que tem criado junto da população, possui uma das assistências mais baixas do campeonato.

Junior Sornoza é a principal figura da equipa. Com apenas 22 anos, este médio ofensivo com apenas 1,66m, é um dos maiores talentos do futebol nacional. Depois de uma curta experiência no Pachuca, do México, Sornoza regressou ao Independiente del Valle no último verão, onde marcou 40 golos nas duas temporadas anteriores. Em Dezembro, esteve à beira de assinar pelo Cultural Leonesa, da terceira divisão espanhola, um dos vários clubes sob o controlo da Aspire Academy. Sornoza é apenas um de sete elementos provenientes da formação, que habitualmente figuram nas escolhas iniciais de Pablo Repetto.

Luis Caicedo, de 23 anos, forma dupla de centrais com o internacional A, Arturo Mina, de 25, que chegou ao clube em 2014, proveniente do Macará. Jefferson Orejuela tem 22 e actua como médio defensivo. Na segunda linha de meio-campo, Sornoza é coadjuvado por Gabriel “El Loco” Cortez, médio ofensivo internacional sub-20, e pelo extremo Bryan Cabezas, o elemento sub-18 mais utilizado no último campeonato. O ataque fica entregue a José Angulo, que hoje cumpre 21 anos. Depois de sofrer uma rotura dos ligamentos cruzados no primeiro semestre de 2015, “Tín” – em referência ao antigo ponta-de-lança Agustín Delgado, melhor marcador na história da selecção equatoriana com 31 golos, foi considerado a grande revelação da Segunda Etapa, depois de apontar 14 golos em outros tantos jogos, na sua temporada de estreia pela equipa principal, e que o colocaram no final do ano na 4ª posição entre os melhores marcadores, apesar de ter perdido toda a Primeira Etapa. O lateral esquerdo Mario Pineida tem 23 anos mas trocou o Independiente del Valle pelo Barcelona de Guayaquil no passado Dezembro.

Os elementos mais experientes da equipa são todos eles uruguaios e da confiança de Repetto. A única excepção é o guarda-redes e capitão de equipa Librado Azcona, presença regular nas convocatórias da selecção do Equador. O lateral direito Christian Núñez, de 31 anos, e o médio defensivo Mario Rizotto, de 29, sagraram-se campeões da segunda divisão uruguaia com Repetto em 2007, ao serviço do Fénix, e o extremo Pablo Caballero, de 28 anos, foi contratado em 2011 pelo Defensor Sporting a pedido do seu actual treinador.

O Independiente del Valle estreia-se no campeonato no próximo Domingo, com a recepção ao Deportivo Cuenca e o seu treinador não escondeu a ambição de conquistar pela primeira vez o título nacional, mas para já, o “Futuro Campeão do Equador” tem um duro teste pela frente na primeira fase da Taça dos Libertadores. O Guaraní, do Paraguai, foi uma das grandes surpresas na última edição, depois de afastar o Corinthians e alcançar as meias-finais, e apesar de já não contar com o seu goleador Federico Santander, parte com favoritismo para esta eliminatória.

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar com o VM aqui!): João Lains


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