Inteligência… Da cabeça aos pés

‘Lahm é o jogador mais inteligente que já treinei’ – Pep Guardiola

O artigo não pretende falar sobre o internacional alemão – excetuem-se as analogias – mas falar de inteligência é falar de Lahm. Ou melhor, falar de Lahm é abordar o alcantil da inteligência. A rigorosidade deve imperar, pelo que estabelecer comparações – o retrato integral seria injusto – aplica-se a quem respeita a hierarquia compendiosa: pensar (e todas as etapas que isso envolve) – executar (outras tantos períodos). Parece fácil e possivelmente até estúpido escrever, mas a fertilidade de pensamento prévio pertence somente a alguns, aqueles que os treinadores costumam descrever como ‘ainda não recebeu e já sabe onde vai colocar’.

Quem por estes dias – os mais atentos reclamarão do pretérito perfeito - surpreende é João Mário. Não se deslocou da lateral para o miolo, mas (quase) seguiu o percurso inverso. Os mais céticos apregoaram uma adaptação feliz para jogos isolados (o clímax deu-se no 3-0 na Luz), não reconhecendo capacidades de atuar na faixa (pelo menos não com regularidade) ao menino calvo. (Não se ignore as prestações de JM na zona nevrálgica, nem tampouco que, em determinados jogos, essa mudança deixou a equipa mais oleada. O que se pretende evidenciar é a polivalência do diamante leonino, que permite à equipa acrescentar o plano B à primeira letra do alfabeto latino).

“Acredito que ele (JM) vai ter um futuro brilhante, tanto no Sporting como na seleção portuguesa. É um jovem muito inteligente. E tem outra grande qualidade: sabe ouvir” – Bryan Ruiz

O camisola 17 não é um portento físico, não tem uma velocidade acima da média e raramente vai “à linha” efetuar o cruzamento. Mas isso não condena as suas prestações na faixa ao fracasso, bem pelo contrário: clarividência tática paradoxal à velocidade, contemporização como mandam as regras e técnica que não roça o sublime, porque é efetivamente sublime.

Provavelmente não fica na retina – se dribles frente ao Marítimo se começam a tornar metódicos a sentença cai por terra - com tanta facilidade como um ‘velocista’, que faça dos raides uma constante, porém o longo prazo é sempre superior ao médio. Curioso é que parece ter sido a situação de Carrilo a despoletar esta ‘adaptação’. Não obstante todos os inconvenientes da não utilização do extremo, até dá vontade de agradecer ao peruano – nem que seja pela ascensão de um jovem que não mais podia permanecer no purgatório.

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar com o VM aqui!): Renato Santarém

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