Repetir 2004? Agora há um ‘grego’ do nosso lado

Romance, Suspense ou Drama? Escolher apenas um seria redutor tendo em conta o sucedido. Talvez uma mescla. Uma mescla de êxtase, desilusão, apoteose, magia e infortúnio. Ninguém fica indiferente a 2004. Uma imagem representa 1000 palavras e um número – ou este número – doses milenares de emoções. Pode ter sido um ano nocivo para a economia, uma razia em termos políticos ou o lançamento do álbum de uma estrela rock, que atingiu a platina.

E uma bandeira hasteada na janela? 
Não se falou em futebol, nem foi preciso. É demasiado evidente, demasiado lustroso, demasiado sublime. Não se esquece. Expressar através de palavras não nos faz reviver, mas faz-nos relembrar. Somos suspeitos e, por vezes, dá vontade de parafrasear - de forma parcial - Jorge Mendes, sem recorrer à hiperbolização (dizem os portugueses). Foi o melhor torneio futebolístico de sempre! Foi o melhor torneio desportivo de sempre!

Se o futebol é o desporto com mais capacidade para unir massas, este foi dos exemplos mais clarividentes. Quantos se lembram do golo de ‘raiva’ do ‘maestro’ Rui Costa a Inglaterra? Quantos se lembram de Ricardo, cujo uso das luvas parecia querer procrastinar o sucesso? Quantos se lembram do imortal Eusébio a derramar lágrimas como uma criança? E tudo isso relatado pelo mitológico Jorge Perestrelo? Quantos se lembram que dois (dos 3) melhores jogadores portugueses de sempre coabitaram na mesma equipa? Quantos se lembram de rejubilar ao compasso delirante do tiro de Maniche? Não somos privilegiados?

Muitos aprenderam aí – possivelmente da maneira mais cruel - que a justiça ‘futeboleira’ (não) é a mesma da sentenciada nos tribunais. Charisteas foi réu. O ‘resultadismo’ ganhou. O pragmatismo ganhou. O romantismo perdeu, Ronaldo chorou e o povo fez uma espécie de luto jovial.

A questão supra-referida encontra resposta, ainda que dispersa:
Houve romance, suspense e drama.
1. Despontava o menino que transferiu – quem imaginaria um verbo tão bem conjugado volvidos 11 anos - a dança popular da sua Terra para o Continente (e como bailava), enquanto via o consagrado ‘7’ (que hoje é ‘seu’) ludibriar os oponentes com dribles refulgentes.
2. Tinha nome de égide, mas deslizava ao ritmo do samba, após um troço imaculado até Gelsenkirchen, enquanto o maestro luso - emigrado por urbes transalpinas - (ainda) mantinha capacidade de afinar a orquestra.
3. Coração não saltou, mas bateu a ritmo alucinante. O jogo com Inglaterra foi impróprio para cardíacos e, para alguns, a final estava ganha depois desse jogo.
4. Mas, no futebol, o que ‘hoje é verdade amanhã é mentira’. Os deuses que nos bafejaram com o naco de relva levantada que, por céleres instantes, fizeram de Beckham um exímio executante de rugby, acabaram por nos ‘trair’ não com um, mas 10 milhões de baldes de água gélida.
5. Basinas levanta o canto e o resto é história… malograda.

 E agora, com um ‘grego’ do nosso lado? Seremos vilões?

Notas:
· O recém-campeão europeu, FC Porto, fornecia um suporte importante à equipa das quinas. (Espanha/Barcelona ’10/12 e Alemanha/Bayern de Munique’14. Coincidências?)
· Dezasseis: número de selecionados a jogar no campeonato português, em 2004. Daqui a uns meses, na melhor das hipóteses, Fernando Santos convocará metade dos intervenientes, a atuar na I Liga.
· Pauleta, Gomes e Postiga foram os três pontas de lança chamados. Teremos algum neste Europeu? Terá a fartura chegado primeiro que a fome?

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar com o VM aqui!): Renato Santarem

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