Terceiro melhor ataque da Liga; A cidade agradece

Mês de agosto é sinónimo de praia, calor e passeio à beira-mar. Para os fervorosos  – que não consomem estupefacientes, mas têm o ópio do povo - o dicionário diverge a média escala. É aprazente, assim, evidenciar o prelúdio do Campeonato Nacional de Futebol. Volvidos, sensivelmente, dois meses em que, quezílias e polémicas de lado se tem assistido a bons espetáculos (a espaços, certo) é minha pretensão destacar uma das equipas que mais deslumbrado e extasiado me tem deixado, o Vitória Futebol Clube. As rimas têm dose elevada de premeditação, tão e somente para enaltecer um futebol poético que a equipa do Sado (por vezes) tem praticado. O timoneiro Quim Machado, que a temporada passada logrou tornar o Tondela primodivisionário pela primeira vez – bendito minuto 94 – tomou as rédeas de uma equipa a que poucos auguravam sucesso e está a colocar novamente a cidade de Setúbal na "alta-roda". De acusações de incumprimento a vários níveis (quem não se lembra de António Fiúza a disparar balas no grande ecrã, exigindo a despromoção dos setubalenses na secretaria?), passando pelas dificuldades financeiras (há quem diga que o clube anda pelas ruas da amargura) ou, em última instância, da (suposta) parca qualidade da equipa que muitos cognominaram candidata… à descida de divisão!

Futurologia está à cargo de outras doutrinas, portanto remanescem os factos. E facto inegável é o (sétimo) lugar desafogado que a equipa ocupa na tabela. Muitos dirão que é precoce analisar o desempenho de uma equipa quando ainda nem decorrido está 1/4 do campeonato. Concordo. Não obstante, ficam algumas minutas:
1. A dupla de centrais Venâncio-Semedo é a mais jovem da Primeira Liga. A juventude já custou alguns dissabores (12 golos consentidos): o central emprestado pelo Sporting falha, grande parte das vezes, o timing de entrada à bola e Venâncio não parece estar, para já, preparado para ser o ‘patrão’ da defesa. O futuro promissor de ambos é inquestionável, porém há que ter em conta que a (falta de) tarimba pode (des)equilibrar a balança. Os laterais apresentam as suas faculdades: William Alves é exímio em situações de bola parada ofensivas, fazendo uso da sua robustez física e elevada estatura (1.88m), todavia é permeável em contexto defensivo, em especial nos duelos 1X1 (talvez o facto de ser central de raiz favoreça no primeiro, mas não no segundo caso). No reverso da medalha, Nuno Pinto faz uso do seu pé esquerdo para cruzar com precisão.
2. O Vitória apresenta o 3.º melhor ataque da liga (14 golos), ex-aequo com o Sporting e apenas suplantado por Benfica e Porto. Para tal, muito têm contribuído as exibições do rejuvenescido Suk – tem feito golos para todos os gostos, cai nas linhas para dar profundidade e parece começar a carburar de forma cada vez mais eficaz os remates de fora da área – e de André Claro que, jogando nas costas do sul-coreano, tem feito um elo de ligação fidedigno entre os homens da zona nevrálgica e o ataque. Somando os currículos, os dianteiros já patentearam 9 golos, o que equivale a 64% dos tiros certeiros da equipa;
3. Costinha tem sido uma agradável surpresa (mais um caso de sucesso, à luz de Pedro Tiba?). Resgatado ao Lusitano FCV, do CNS, este sub-23 é um jogador de baixo centro de gravidade, capaz de ir à linha de fundo, cuja velocidade pode (continuar a) fazer mossa nas defesas contrárias. André Horta parece estar destinado a voos maiores. Médio-centro que faz da capacidade de transportar bola e da visão de jogo as suas principais armas participou nas sete partidas da competição (4 como titular e 3 como suplente utilizado). Com 18 anos, apresenta margem de progressão (será de família, Ricardo?).
4. Paulo Tavares confere experiência; Ruca é um estabilizador; Arnold (ex-Chaves) tem vindo a despontar nas últimas partidas e Ricardo é um guarda-redes com provas dadas (daqueles que dá pontos), relegando Raeder para o banco.

Os pontos finais não abundam. Para os lados do Bonfim reinam, sim, os de interrogação (a equipa apresenta o 3.º melhor ataque da prova, no entanto, apresenta também a 3.ª pior defesa): A boa performance poderá redundar na perda das pedras basilares, já no mercado de janeiro. Uma ida à Europa é (quase) utópica, um campeonato fleumático apresenta grande verosimilidade.

PS: Não querendo fugir ao tema, nem reunindo condições para ser guia-turístico, aconselho vigorosamente uma visita a Setúbal. Quatro motivos:
1. A delícia do choco-frito, um dos melhores pratos da gastronomia portuguesa.
2. Arrábida no seu esplendor – para os menos devotos de serra, a praia é logo por baixo. (2 em 1)
3. A beleza incomensurável de Troia – esplêndido (nem as alforrecas indesejadas afastam turistas).
4. Visita ao Bonfim – preferencialmente, em dia de jogo.
Um dos segredos nacionais que vale a pena desvendar!

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar com o VM aqui!): Renato Santarem

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