Crítica de Televisão

Esta é uma daquelas séries que durante muitos anos acompanhamos mas a cada temporada televisiva que passa nos questionamos se valerá mesmo a pena.

Continuamos a repetir para nós mesmos que é por boa causa, apoiar o produto nacional, que se não continuarmos a ver depois não saberemos o final ou não o apreciaremos da mesma maneira… Mas de cada vez que nos sentamos no sofá, ligamos a televisão e o tema de abertura — que belo tema, diga-se — agracia os nossos ouvidos, apercebemo-nos de que o novo episódio é apenas nova tortura.

A realização e produção muito a desejar deixam. A série tem sorte: é renovada a cada dois anos (vá-se lá saber como, as audiências mantêm-se altas o suficiente para tal), várias vezes com a corrente equipa de produção e realização a manter-se no lugar. E de cada vez que é renovada, especialmente quando nova equipa chega, esperamos que o tom mude; mas não. A série continua fraca, fraquinha.
Estética é zero, naturalmente. O som, auxiliado por um comentário mais desinformado que sabedor e por vezes estupidificante, não ajuda à causa. A edição, a forma como as peças são montadas, dá a polémica que se conhece.
Ora vejamos: o elenco, a precisar urgentemente de renovação e excepto alguns elementos (entre as quais o protagonista), é fraco. Cada um dos actores pouco mais sabe fazer que o essencial e, quando se lhes pede que dêem algo mais, que saiam a sua zona de conforto, raramente não falham. É comum ver a cada episódio actores convidados de outras séries ridicularizarem os da nossa série favorita.

O enredo é o que mais pena dá. Estéril e sem fio condutor, com muita parra mas pouca uva. Poucas vezes nos choca e quando o faz é caído do céu ou da habilidade do seu actor principal. Nunca sai do mesmo, incapaz de construir histórias com cabeça, tronco e membros — ou, como se diria no futebol, que comecem na defesa, passem pelo meio-campo e ataque e acabem com a bola na baliza. Mas não nos distraiamos, que este não é um blogue desportivo. Estamos aqui é para falar de televisão.

A qualidade do protagonista, como vinha dizendo, é o que mantém muitos presos à televisão. A sua qualidade é surreal. Sozinho leva o enredo ao clímax, traz a cada episódio outra qualidade e, mesmo quando aparece menos, sabemos que a cada momento nos pode pasmar com um momento de grandíssima qualidade. Por alguma razão é considerado um dos dois melhores em actividade, tendo já reservado lugar no panteão dos melhores de sempre. Salva episódio medíocre atrás de episódio medíocre com o seu talento e, nas raras ocasiões em que não marca presença, nota-se demais.

E eis a minha preocupação, caros leitores: que uma vez findada a carreira deste fantástico actor, por quem o público grita desalmado a cada fala, as pessoas deixem de sentir qualquer ligação a esta série que nos representa. Desde 2006 que não apresenta, salvo raras excepções, um episódio decente.
Traduzamos por miúdos. Imaginem, muito hipoteticamente, que falo da Selecção Nacional. A equipa, seja qual for o seleccionador, apresenta um futebol paupérrimo: sem ser um ou outro caso pontual (por exemplo a derrota com a Dinamarca no tempo de Queiroz ou a goleada à Espanha), não faz um jogo aceitável desde 2006. Quando o único remate de perigo vem de um livre directo, está tudo dito. E a histeria que se sente em redor da equipa de todos nós deve-se mais hoje em dia à presença de Ronaldo que da turma das quinas em si, o público entrando em êxtase de cada vez que ele toca na bola.

A Selecção pode ganhar, empatar ou perder e marcar mais ou menos golos, mas um factor mantém-se constante: a qualidade de jogo é nula. A suspeita é precisamente que Ronaldo (ou a sua ausência) e o mau futebol provocarão um afastamento da turma de Fernando Santos. Se o capitão deixar os palcos internacionais e o futebol não melhorar, o público poderá desligar-se em definitivo da Selecção.

Mas falamos da nossa série, não dos nossos representantes futebolísticos, e deixo aqui o mote: é hora de começar a fazer algumas mudanças.

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar com o VM aqui!): Inês Sampaio

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