O que tem em comum os 10 melhores avançados centro do Mundo?

Tal como na definição de Filosofia, não existe uma resposta correta a esta questão. Estes 10 atletas têm em comum diversas características, a mais conhecida a capacidade de marcar golos, no entanto, uma delas está na génese de um problema com o qual todos os grandes clubes do mundo lidam. Por exemplo, a falta de um avançado português de qualidade acima da média, ou pelo menos com um valor semelhante à dos nossos melhores alas, médios ou centrais, é um problema crónico e que já preencheu muitas páginas de jornais, no entanto, e como iremos ver, trata-se de um sintoma do qual todas as seleções nacionais padecem ou irão, muito brevemente, padecer, isto, numa era em que estamos a assistir à “extinção” do ponta-de-lança  europeu de classe mundial.

Para compreendermos esta teoria, basta enunciarmos numa lista os 10 melhores pontas-de-lança da atualidade e, de seguida, dedicar algum tempo a consultar o histórico de clubes por onde passaram, incidindo particular destaque sobre o(s) seu(s) clube(s) de formação. A realidade não podia ser mais evidente, nenhum deles realizou a sua formação num clube de topo, num colosso à escala mundial. Os “9’s” de eleição da atual elite da modalidade foram antes escalando degraus até pisarem os “gramados” mais verdejantes do desporto rei (mesmo contemplando neste elenco os denominados “falsos 9”, somente Lionel Messi e Thomas Müller se diferenciam do perfil traçado, assumindo, portanto, uma representatividade irrisória). Provavelmente, o último verdadeiro ponta-de-lança a alcançar tamanha proeza foi Raúl González, a lenda viva do Real Madrid, que tendo realizado a sua estreia aos 17 anos, por lá se manteve até aos 33, altura em que viria a ingressar os alemães do Schalke 04.

Ainda que atravessemos uma era onde o jovem é altamente valorizado, a posição de ponta-de-lança é uma das poucas (senão a única) em que os jogadores continuam a ter de completar todas as etapas de formação profissional. De resto, não é concebível que num clube, para o qual a conquista de títulos é imperativa, exista margem para o desenvolvimento e progressão de um jogador que atue numa posição cirúrgica como a de ponta-de-lança, pois a equipa não se pode dar ao luxo de ficar em branco enquanto o jogador se adapta e acomoda ao futebol profissional. É, portanto, natural que os clubes de top apetrechem o seu ataque com jogadores de créditos firmados e que garantam resultados, servindo-se de clubes de “classe média alta” como verdadeiras barrigas de aluguer, onde os jogadores são moldados e lapidados até atingirem o grau de maturidade competitiva e de excelência que lhes permita atuar num clube de maior dimensão.

Por muito que apregoemos uma maior aposta na formação e que esta seja um motivo de regozijo por parte dos adeptos e, por vezes, um pretexto propagandístico por parte da administração de alguns clubes, basta deixarmos a hipocrisia de lado por uns momentos e assumirmos que nenhum adepto dos “três grandes” nacionais está disposto a ver o seu clube correr o risco de perder pontos preciosos na corrida pelo título pelo simples facto de estar a apostar num jovem ponta-de-lança da formação. Se tal se verificasse, o resultado mais provável seria a perda de pontos e o acrescer da pressão sobre o jogador que, subjugado ao escrutínio de adeptos menos ponderados e de uma comunicação social ao estilo da Inquisição, seria usado como bode expiatório para justificar os resultados menos abonatórios de toda uma equipa. Agora, contemplemos semelhante cenário, aplicando-o desta feita a clubes como o Real Madrid, Chelsea, Barcelona, Bayer Munique, etc., que se assumem como candidatos à conquista, não só das competições domésticas, como também da Champions League.

A verdade, por vezes, é dura e difícil de aceitar, no entanto, um grande clube lida com uma pressão astronómica dia-a-dia e em pleno século XXI não existe lugar para a aplicação de planos de médio/longo prazo, pois os resultados têm de ser imediatos e esta conceção tecnológico-produtivista, característica do paradigma do futebol contemporâneo, não é passível de ser conciliada com a aposta e valorização intensiva das camadas de formação, pois se de um lado da balança temos a “autarcia”, do outro temos a competitividade, e no final do dia é esta última a mais significativa, seja para a administração do clube, seja para a sua massa adepta.

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar com o VM aqui!): Pedro Pateira

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