Passam hoje 20 anos sobre a fatídica morte de Drazen Petrovic. O jogador croata, autêntico herói local, num país devastado pela guerra, foi vítima de um acidente de viação na Alemanha, quando regressava ao seu país natal (a sua namorada, actual esposa de Oliver Bierhoff, e outra passageira, que nunca mais recuperou das consequências do acidente, sobreviveram). Muitos já terão ouvido falar em Petrovic, mas poucos conhecem os seus feitos e o seu impacto no basquetebol. O segundo base (SG) fez parte da melhor geração da história da Jugoslávia e foi o primeiro grande jogador “internacional” (nome que os norte-americanos chamam aos jogadores estrangeiros) a brilhar na NBA (Hakeem Olajuwon nasceu na Nigéria, mas fez-se jogador nos EUA). Antes de chegar à melhor liga do Mundo, Petrovic deu espectáculo no KK Sibenka (finalista por duas vezes da 3ª melhor competição de clubes da Europa) e Cibona Zagreb, onde se sagrou bicampeão europeu de clubes (1984-85 e 1985-86), bicampeão da Jugoslávia (1983-84 e 1984-85), 3 vezes vencedor da Taça local e 1 vez vencedor da Taça das Taças. Na primeira final europeia, o croata marcou 36 pontos, na vitória por 87-78 sobre o Real Madrid e, na segunda, marcou 22 pontos, na vitória sobre o Zalgiris Kaunas (onde jogava Arvydas Sabonis) por 94-82. Em 1986, Petrovic foi seleccionado pelos Blazers, mas optou por continuar a jogar na Europa (até 1988 em Zagreb e na temporada 1988-89 no Real Madrid). Em Espanha, mostrou que era um caso sério, apesar de nem ter sido campeão (venceu a Taça do Rei e a Taça das Taças). No Verão de 1989, dá finalmente o salto para a NBA. Contudo, a adaptação não foi fácil e os minutos escassearam em Portland (estava tapado por Drexler, Porter e Ainge). A meio da 2ª temporada, os New Jersey Nets decidiram apostar no croata e foram-no buscar a Portland. Petrovic não demorou a mostrar toda a sua qualidade. Os minutos de jogo aumentaram (passou de cerca de 10-12 minutos em Portland para 36 nos Nets), e a qualidade apresentada foi de grande nível. Terminou a temporada 1991-92 com média de 20.6 pontos por jogo e no ano seguinte subiu para 22.3 pontos por jogo, com percentagens de lançamento acima dos 50% (raro para um base). A nível de selecções, Petrovic levou a Jugoslávia a vários lugares de destaque, entre eles a conquista do Mundial em 1990, o Eurobasket em 1989, a Prata nos JO 1988 e o Bronze nos JO 1984, Mundial 1986 e Eurobasket 1987. Em representação da Croácia, o base levou a sua nação à final dos JO 1992, onde cedeu perante a “Dream Team”. Drazen Petrovic mostrou argumentos para se tornar num caso sério na NBA e abriu as portas para a chegada de vários europeus à melhor liga do Mundo (a sua qualidade, confiança e trabalho – “work ethic” - levaram os responsáveis norte-americanos a ver os europeus com outros olhos).
20 factos sobre Drazen Petrovic:
1 - Petrovic nasceu no dia 22 de Outubro de 1964 em Sibenik e faleceu tragicamente no dia 7 de Junho de 1993, na Baviera.
2 - Pouco tempo depois, a sua camisola (nº3) foi retirada pelos New Jersey Nets.
3 - Em 2002, foi postumamente introduzido no Naismith Memorial Basketball Hall of Fame (1º jogador europeu a conseguir tal feito).
4 - Petrovic tinha várias alcunhas, entre as quais, “Génio de Sibenik”, “Mozart do Basquetebol” ou simplesmente “Amadeus”.
5 - Para além de ser um excelente jogador de basquetebol, Petrovic tinham um QI elevado, era muito bom a matemática e fluente em 5 línguas;
6 - Tem um recorde de 112 pontos numa partida da Liga Jugoslava (40/60 em lançamentos de campo, 10/20 em triplos e 22/22 em lances livres);
7 - Nos 4 anos ao serviço do Cibona Zagreb fez uma média de 37.7 pontos na Liga Jugoslava e 33.8 nas competições europeias. Destacam-se essa partida dos 112 pontos, outra de 62 pontos na Europa e outra frente ao Limoges, na Euroliga, onde marcou 51 pontos, 10 assistências, incluindo 10 triplos. No mesmo ano, marcou 45 pontos e fez 25 assistências frente ao campeão italiano;
8 - Em Espanha, ainda detém o recorde de pontos numa série final de campeonato, quando marcou 42 pontos ao Barcelona, e na final da Taça das Taças (1988-89), marcou 62 pontos, na vitória do Real Madrid sobre os italianos do Snaidero Caserta, por 119-113, após OT (numa final épica, onde o brasileiro Óscar Schmidt marcou 44 pontos pelos italianos);
9 - Na estreia na NBA, Petrovic jogou apenas 12 e 7 minutos por jogo em Portland. A meio da temporada 1990-91, trocou Oregon por New Jersey e a sua qualidade veio ao de cima;
10 - Foram marcantes os duelos perante Michael Jordan e Reggie Miller. O croata não tinha qualquer receio das super-estrelas e não resistia a provocar os seus rivais (Reggie Miller revelou mesmo que tinha vontade de lhe apertar o pescoço por diversas vezes);
11 - Nas duas temporada que realizou completas nos Nets, levou a equipa aos playoffs e terminou com uma média de pontos de 20.6 e 22.3 por jogo;
12 - Mais do que um marcador de pontos, Petrovic destacou-se pela eficácia. O SG terminou a sua carreira na NBA com 50.6% em lançamentos de campo (está no top-10 para bases) e 43.7% em triplos (4º melhor de sempre);
13 - Em 1991-92, marcou 20.6 pontos por jogo ao serviço dos Nets, terminando a temporada como o melhor atirador entre os bases (50.8%);
14 - No ano seguinte, foi seleccionado para a 3ª melhor equipa da NBA e terminou a temporada com uma média de 22.3 pontos por jogo (51.8% de eficácia e 45% nos triplos);
15 - 24 de Janeiro de 1993 marca o dia em que Petrovic realizou o seu melhor score na NBA. Os Nets derrotaram os Houston Rockets por 100-83, com o croata a marcar 44 pontos (17-23 em lançamentos, 3-3 em triplos e 7-7 em lances livres);
16 - Nos playoffs, destaque para os 40 pontos marcados, na temporada 1991-92, perante os Cleveland Cavaliers (derrota por 113-120);
17 - Para além dos títulos colectivos com a Jugoslávia, Petrovic foi também eleito o MVP do Mundial 1986 e do Eurobasket 1989;
18 - Na selecção da Croácia (entre 1992 e 1993), Petrovic marcou 1002 pontos em 40 partidas (média de 25 ppj). A mais importante foi contra a “Dream Team”, na final dos JO 1992. Drazen Petrovic marcou 24 pontos, na derrota por 117-85. A sua última partida pelos croatas foi a 6 de Junho, numa derrota por 94-90 frente à Eslovénia (30 pontos);
19 - Para a história fica também o incidente de
Vlade Divac (seu grande amigo) com uma bandeira da Croácia, que levou ao afastamento entre os dois jogadores. Ao contrário de Toni Kukoc e outros jogadores croatas, Petrovic e Vlade nunca tiveram oportunidade para se reconciliar, devido à morte prematura do primeiro, ainda com a Sérvia e a Croácia em guerra (podem ver
aqui o documentário).
20 - Ao longo da sua carreira, Petrovic driblou e enganou muitos adversários, contudo, era impossível fugir ao destino… se não vejamos: a selecção croata viajou da Polónia até Munique, onde apanhou novo voo para Zagreb. Nesse momento, Petrovic decidiu seguir viagem de carro para a Croácia, com a sua namorada alemã. O jogador conduziu a maior parte do tempo, até passar o volante para a sua namorada e adormecer no banco do co-piloto. A viagem seguia tranquila até ao momento em que o carro ultrapassou uma ligeira elevação e embateu de frente contra um camião… que estava despistado… fora da sua via de circulação. Petrovic não vinha com o cinto de segurança colocado…
Drazen Petrovic viveu pouco (28 anos), mas o suficiente para ser considerado o melhor desportista croata da história. Para além disso, é considerado por muitos como o melhor jogador europeu da história, e o melhor atirador que a NBA já viu (quem o afirmou foi Reggie Miller, um atirador de excelência e grande rival). O mais certo é que nunca iremos encontrar um génio como Drazen Petrovic, mas como afirmou Diego Armando Maradona para a mãe do malogrado jogador: “Não se preocupe, que o génio de Petrovic estará sempre vivo”.
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