Ânderson Luís da Silva poderá nada dizer-lhe, mas se lhe dissermos
que estamos a falar de Luisão, aí o caso muda de figura. O central
brasileiro é apenas mais um exemplo de como uma alcunha ganha força e se
sobrepõe ao nome de baptismo quando a estrutura física e/ou o estilo
de jogo de um futebolista assim o obrigam. Luisão é o protótipo do
central de dimensões épicas: 1,93m de saber defensivo, por terra e ar.
Épica começa a ser a sua carreira de águia ao peito, daquele que já é o jogador estrangeiro com mais jogos realizados pelos
encarnados. Este é o retrato de Luisão, um defesa que passa incólume aos
efeitos do tempo e que já conheceu diversos treinadores, mas que sempre
se impôs deixando a sua marca e voz autoritária. Este é Luisão, capitão
do Benfica e o seu melhor jogador na última década.
Poderá ser uma afirmação controversa e/ou questionável, mas a verdade é
que o jogador, que deu nas vistas no Cruzeiro, no Brasil, desde a sua
chegada a Lisboa no Verão de 2003, se vem afirmado como um símbolo do
crescimento sustentado do Benfica ao longo dos anos. Após um começo
pereplitante, o brasileiro marcou presença regular no onze inicial a
partir da temporada 04/05, num ano que culminou com a conquista do
título (fez mesmo o golo inaugural frente ao Estoril, naquele 24 de
Maio) É verdade que pelo emblema lisboeta passaram nomes como os de
Simão, Rui Costa, Aimar, Saviola, Nuno Gomes, mas quem se manteve dentro
do barco foi este central que, pese as mudanças no comando técnico da
canarinha, continua a ser uma aposta recorrente dos seus
seleccionadores. Homem que se agiganta nos momentos cruciais da época - o
exemplo mais fresco aconteceu agora, em Eindhoven - o central marcou
alguns dos golos mais decisivos nas várias e diferentes caminhadas que o
Benfica, e o Brasil, realizaram até aqui: marcou o golo que derrotou o
Liverpool na primeira mão dos oitavos-de-final em 2006, o golo que
afastou o Sporting da corrida ao título em 2005 e o tento brasileiro na
final da Copa América em 2004.
Ainda não terá atingido a aura de Félix, Germano, Mozer, Ricardo Gomes,
Humberto Coelho ou Raúl, mas já tem o seu nome inscrito a letras
douradas no historial de grandes centrais que passaram pela Luz. Fez
dupla com os então promissores Ricardo Rocha, Alcides ou EdCarlos, depois com Anderson que mais tarde se mudou para o Lyon, mas foi
com David Luiz ao lado que Luisão revelou ser mais que um central: era
já o patrão de uma defesa e de uma equipa que lhe reconhecia o seu
extraordinário papel extra-futebol, chegando aos ouvidos do público em
geral que é o pai dos sul-americanos que todas as épocas aterram na
segunda circular lisboeta.
Qual o melhor jogador do Benfica na última década? É justo atribuir esse rótulo a Luisão? Além dos golos decisivos que marcou, não fosse a sua presença no latino balneário encarnado, a indisciplina seria uma constante? Terminará a carreira nos encarnados?
António B.
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