Sobressair no silêncio

Natural de Bragança, Luís Miguel Afonso Fernandes, “Pizzi” no mundo do futebol, é hoje um titular do tricampeão nacional. Na verdade, não se trata de um virtuoso, um daqueles elementos que sobressaem rapidamente na primeira jogada em que tocam no esférico, mas é indiscutivelmente um dos jogadores mais inteligentes do plantel. Trata-se de alguém que interpreta perfeitamente as ideias do treinador, um jogador de colectivo, que é nuclear no modelo de jogo vigente. Peça chave no miolo do último campeonato de Jorge Jesus, foi rapidamente recolocado na sua posição de origem por Rui Vitória. É na faixa que se sente melhor, sem dúvida. Na ala, Pizzi consegue combinar a sua capacidade para oferecer largura, onde aplica a sua elevada qualidade no cruzamento, bem como fazer uso dos seus movimentos interiores para acrescentar mais uma unidade ao meio-campo e, em simultâneo, provocar desequilíbrios no adversário. Um sistema de jogo desequilibrado por natureza é assim disfarçado pela cultura táctica de um activo único neste plantel. Aos 26 anos, o transmontano está cada vez mais maduro e dificilmente não será muito importante esta época para o Benfica. Todavia, não é nem nunca foi um elemento consensual para os adeptos. Tido como elemento prescindível para muitos ou como banal para outros, foi Rui Vitória que segurou Pizzi. Recorde-se que, em face da lesão de Gaitán no ano transacto, o médio assumiu o papel de principal dinamizador da equipa, sendo mesmo a melhor unidade da equipa durante os meses de Dezembro e Janeiro, onde contribuiu com assistências e golos importantes. Por outro lado, o técnico das águias deu-lhe novamente um sinal de confiança neste arranque de temporada. Apesar da concorrência de Carrillo e Salvio, a ala direita continuou a pertencer-lhe e Pizzi correspondeu. Uma exibição lúcida, marcada por uma assistência que fechou o resultado e coroada com um golaço que sentenciou o troféu e que ilustrou bem a qualidade do ex Atlético Madrid. Deste modo, está dado mais um passo para cair no goto dos adeptos, que, provavelmente, começarão a ter mais dúvidas quando elaborarem um 11 inicial sem Pizzi. A concorrência promete ser feroz, pelo que não haverá espaço para facilitismos, sendo que regressar à Selecção nacional será outro dos seus objectivos. Assistir no sofá ao triunfo luso no Europeu ter-lhe-á custado bastante certamente, até porque, tendo em conta a época que realizou, seria legítima a sua presença nos eleitos de Fernando Santos. Assim, após uma série de anos de irregularidade e instabilidade, onde passou por uma série de clubes, a carreira de Pizzi está agora mais estável e encontram-se reunidos todos os ingredientes para mais uma grande temporada.

Rodrigo Ferreira

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