Quem quer jogar com o Barcelona?

Não é fácil para um clube português, mesmo que participe na Primeira Liga, ter visibilidade na imprensa e cativar os adeptos da sua região. Excluindo os denominados três grandes, ou têm uma massa adepta substancial que força uma maior cobertura mediática, como acontece com o Vitória SC e Sporting de Braga, ou são colocados no saco dos clubes que existem essencialmente para fazer número, aos olhos dos media, o que prejudica o seu crescimento. A boa publicidade ocorre apenas quando chegam a uma final, surpreendem os crónicos candidatos ao título ou fazem uma época extraordinária apurando-se para a fase de grupos da Liga Europa. Em qualquer dos casos a atenção mediática varia entre alguns dias ou alguns meses, e os efeitos práticos limitam-se a um aumento das receitas.

Tornou-se banal ouvir os dirigentes queixarem-se desta crónica falta de atenção, mas não caberá a eles, os responsáveis pela gestão do clube, arranjar forma de furar o silêncio mediático? Em teoria jogar contra um dos maiores clubes do planeta - Barcelona - seria uma óptima maneira de criar interesse mediático e da população local. Qualquer jogo contra este clube, independentemente do desporto, chama muitas pessoas ao estádio ou pavilhão onde jogam.

Seria no entanto utópico tentar fazê-lo nas competições europeias masculinas. A via menos cara seria o hóquei, mas implicava sempre um investimento insustentável para 15 dos 18 clubes da Primeira Liga. Sobra um caminho: futebol feminino.

Um clube da Primeira Liga que invista, de forma sustentável, no futebol feminino, arrisca-se a alargar a base de adeptos, vencer competições, e participar na Liga dos Campeões. O Futebol Benfica, clube que na vertente masculina apenas participa no campeonato distrital, vai jogar jogar essa competição pelo segundo ano consecutivo. Um clube praticamente sem recursos, como é o Ouriense, arriscou-se a jogar com o Barcelona em 2014/2015, após passar a fase de apuramento. E na época que agora terminou participaram clubes como o PSG, Chelsea, Bayern de Munique, Wolfsburg, Atlético e Lyon.

Sporting, Belenenses, Estoril e Boavista e Braga já confirmaram a sua presença na Liga feminina Allianz da próxima época, mas há espaço para mais clubes que queiram usar os recursos que a Primeira Liga lhes oferece para tentar vencer títulos e jogar contra alguns dos maiores clubes do mundo, sem ter de recorrer à criação de dívida. Há todo um novo universo desportivo para explorar, basta ter visão de longo prazo.

Termino com uma questão para os clubes e adeptos da Madeira. Tendo a região neste momento dois clubes estáveis na Primeira Liga, Marítimo e Nacional, porque não transformar o União da Madeira na grande bandeira do futebol feminino nacional? Porque não se sentam os três à mesa com o governo regional e chegam a um acordo que beneficie as finanças, o desporto e a imagem da região? Será que os adeptos não preferiam todas as épocas lutar para conquistar títulos e eventualmente defrontar clubes enormes na Liga dos Campeões, em vez de ser apenas mais um clube na Segunda Liga?

Visão do do Leitor (perceba melhor como pode colaborar com o VM aqui!): José Augusto

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