O Thom Yorke dos Coldplay

As generalizações são sempre perigosas, bem como os rótulos. No futebol a procura incessante pelo novo Ronaldo ou pelo novo Messi parece não ter fim.Em tempos, também Freddy Adu tinha sido considerado o novo Pelé, e todos sabemos o que acabou por acontecer.

Outro universo onde abundam os estereótipos, os rótulos e as generalizações, é na música. Como soa a tua banda? - É um misto de Led Zeppelin com Metallica, juntamente com uma boa dose de pretensiosismo e outra de aldrabice…

Da mesma forma, no fervilhante universo musical britânico também os Coldplay quando o single “Yellow” atingiu as playlists foram rapidamente rotulados como os novos Radiohead (nesta altura é melhor terminar com as comparações, não vá o leitor sentir-se tentado a ver o novo home vídeo do Valbuena com banda sonora da Ana Malhoa…)

De volta ao futebol, se há país onde a própria cultura não é afecta a generalizações é a Alemanha. A meritocracia é um conceito fundamentado em terras teutónicas, mas nem por isso deixou de ser na Alemanha que uma das comparações mais difíceis para um profissional de futebol, tomaram forma. O episódio contudo, é uma das histórias mais apaixonantes da época 2015/2016.

Em Hoffenheim, mora uma daquelas equipas que desde que chegou à Bundesliga, toda a gente admira. Pequeno clube de uma pequena vila alemã, o Hoffenheim teve uma ascensão sustentada, um projecto desportivo muito bem delineado, e foi sempre capaz de formar equipas com jogadores de qualidade superior e de praticar futebol muito acima da média. Esta época, as ambições do Hoffenheim passavam novamente por disputar um lugar na primeira metade da tabela, e nomes como o prolífico avançado Kevin Volland e o cobiçado central Fabian Schar deixavam antever isso mesmo. Mas não foi isso que aconteceu, e o Hoffenheim na viragem da segunda volta definhava no último lugar da tabela, e já Markus Gisdol havia dado o lugar a Huub Stevens.

Entre o reinado dos dois técnicos, o Hoffenheim tinha somado apenas 2 vitórias, e 13 pontos…

Em Fevereiro, Huub Stevens alegou problemas cardíacos, e o Hoffenheim resolveu surpreender e entregou a equipa ao jovem Julian Nageslmann, de apenas 28 anos, que antes mesmo de assumir a equipa para o seu primeiro jogo, já havia batido um recorde. O mais novo técnico da Bundesliga de sempre. Até os calculistas e frios alemães olharam para isto com entusiasmo e rotularam o novo técnico de “Baby Mourinho”.

Nagelsmann, viu uma lesão no joelho terminar-lhe a carreira ainda em idade de júnior, jogava ele no Augsburg. Ainda não refeito da desilusão, o jovem decidiu abandonar o futebol e tirar o curso de Ciências do Desporto, mas pouco depois o bichinho falou mais alto e Nagelsmann regressaria a Augsburg para a sua primeira experiência numa equipa técnica de futebol. Trabalhou ao lado do seu grande mentor, Thomas Tuchel actual treinador do Dortmund, saindo pouco mais tarde para os escalões de formação do Hoffenheim, onde orientou os S16 e os S19.

Tendo Tuchel, Guardiola e Wenger como referências, cedo se percebeu em Hoffenheim que o jovem Nageslmann não estava ali para passar o tempo, e nos seus dois primeiros anos como técnico dos juniores levou o Hoffenheim a duas decisões do título, ganhando em 2014.

Os directores do clube souberam que tinham nos seus quadros alguém especial, e antes mesmo de Hubb Stevens abandonar o comando técnico, já Nagelsmann sabia que iria orientar a equipa principal em 2016/2017, muito provavelmente na 2. Bundesliga…

Agora que faltam apenas 2 jornadas para o fim da Bundesliga, o Hoffenheim está praticamente a salvo. Com Nagelsmann ao comando, os azuis conseguiram 7 vitórias, e em 36 pontos possíveis desde que assumiu a equipa, Nageslmann conseguiu 23.

O segredo? O discurso.

Nagelsmann inflamou de tal forma o cabisbaixo balneário do Hoffenheim, que aquele grupo de talentosos jogadores do início da época, voltou a acreditar nas suas potencialidades e partiu em busca do milagre.

Jogando futebol em todo o campo, assente numa incrível pressão alta ainda no meio campo adversário, Nageslmann lançou para a equipa dois jovens que ele conhecia bem, com efeitos devastadores. O criativo Nadiem Amiri e o extremo Phillip Ochs explodiram durante o reinado de Nagelsmann, mas os pesos pesados do plantel reapareceram novamente. Volland marcou 8 golos em 8 jogos, Sule e Schar formaram um dupla de centrais fortíssima, com Jeremy Toljan em grande destaque na esquerda, e Sebastian Rudy é peça fundamental nos equilíbrios defensivos sendo a âncora que permite à equipa jogar sempre num ritmo elevado e em pressão constantes. Também os avançados Mark Uth e Andrej Kramaric reencontraram o sorriso e começaram a contribuir no plano ofensivo.

Com a manutenção praticamente assegurada, a história de Nagelsmann e do Hoffenheim será das mais interessantes de seguir em 2016/2017.

O futuro parece promissor, mas ainda é cedo para perceber se Nagelsmann fará jus ao epíteto de “Baby Mourinho”. Contudo, para já, em Hoffenheim toda a gente acredita que Julian é pelo menos um Thom Yorke nos Coldplay.

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar com o VM aqui!): Flávio Trindade

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