Conjugações de quimera

O cosmos futebolístico é infalivelmente artístico. Capaz de ressalvar o botão ‘on’ durante parte significativa do contrarrelógio que é a existência humana, detém a singularidade de dar ao sonho um aspeto real, como se durante hora e meia (atenção às solicitações pelo livro de reclamações) se procedesse a uma construção incomensurável de varinhas mágicas e os heterónimos (principais) de Pessoa passassem de três a milhões. Mais em prosa nas palavras, mas com continuação lírica no terreno de jogo, surge aquele cujo nome não só deve ser pronunciado, como tem obrigatoriamente (hoje ou daqui a três décadas) de ser pronunciado: Ibracada… Perdão, recorde-se em primeira instância o nome verdadeiro do obreiro: Zlatan Ibrahimovic. Agora sim – e porque o lirismo continua a querer compaginar-se injustamente com as quatro linhas -, o agnome de um sueco perfeitamente (in)confundível, Ibracadabra.

"Não preciso de Bola de Ouro para saber que sou o melhor. Isso importa mais para alguns jogadores"
A versão ‘Oliver (e Benji)’
Para a utopia do futebol tem contribuição pujante o astro sueco. Com uma cartola infindável de golos antológicos (se a velocidade de Ferrari não vierem à cabeça cinco tentos é recomendável acompanhamento mais regular à Cidade Luz) o avançado de parco defeito alcançou a proeza da unanimidade na entrega (quase sempre) (in)justa de um galardão que premeia o executante cuja obra-prima se tenha destacado das demais. Com candidatura anual «la palissada» - ele é calcanhar transalpino, ele é míssil hispânico, ele é moinho sueco – pode sempre esperar-se uma reencarnação de Tsubasa na bicicleta abracadabrante de Zlatan. (See you soon, Hart).

"Estou à procura de um apartamento em Paris. Se não encontrar um bom, compro um hotel"
A versão ‘Michael Scofield’
Uma frase que transluz a antítese do Planeta Zlatan. Há pouco mais de um ano, no seguimento de um festejo em que retirou a camisola para dar voz a 50 (que representam 805 milhões de) crianças o goleador trouxe à tona o lado humanitário (apesar da cartolina amarela evidenciar a ‘antites’ que o persegue) e, por mais que o cariz tenha sido efémero, não há como não enaltecer um ato tão nobre na luta contra a fome. Do pequeno ao grande ecrã, do origami ao abanar das redes, com a filantropia a assumir o papel principal.

"Se substituírem a Torre Eiffel por uma estátua minha, fico no Paris Saint-Germain"
A própria versão.
Pretensioso para uns, o sueco nutre a capacidade de propagandear o fenómeno ‘thug life’ por essa galáxia viral e, sem descortesia para os ainda agora supracitados, com uma popularidade inversamente proporcional aos galardões que (não) recebeu durante uma carreira recheada de golos. Acrescente-se-lhe a magia, um dicionário folheado de trás para a frente e uma conjugação de baluarte:
Eu Zlataneio
Tu Zlataneias
ELE ZLATANEIA
Nós Zlataneamos
Vós Zlataneais
Eles Zlataneiam

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar com o VM aqui!): Renato Santarem

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