Haja vontade!

Reza a história que Carlos I de Inglaterra vestiu duas camisas antes de subir ao cadafalso, onde seria executado por traição. Segundo o próprio, “não quero tremer de frio, pois podem pensar que tenho medo”- mesmo perante a morte, conseguiu manter este típico brio e orgulho britânico.

É precisamente sobre orgulho que trata esse texto; não sobre o exacerbado, que tende a ter consequências mais imprevisíveis e negativas que a falta dele, mas sim sobre o simples, inocente – o orgulho de lutar incondicionalmente, ainda que a vitória seja uma miragem, o acreditar que, apesar de todas as probabilidades se conjugarem para nos abafar, há uma réstia de esperança pela qual vale a pena combater – é por ela que FC Porto e Sporting se baterão, esta quinta-feira.

As derrotas de “dragões” e “leões” na Liga Europa foram, inegavelmente, comprometedoras. Além dos desaires, que deixam as equipas portuguesas em “maus lençóis”, há a destacar também as exibições, aquém do potencial, que ambos os conjuntos rubricaram. É certo que o contexto estava longe de ser o mais favorável – Jorge Jesus poupou os seus dois jogadores mais importantes, demonstrando novamente o desinteresse por esta prova; José Peseiro viu-se obrigado a “remendar” um setor defensivo incrivelmente desfalcado, colocando um lateral na posição central da defesa e um extremo a ala – mas a “garra”, a vontade que, convenhamos, deveria estar sempre presente, ainda para mais em partidas contra emblemas estrangeiros, faltou, principalmente no encontro em Alvalade, deixando no ar a ideia que tanto Porto como Sporting prefeririam não disputar a competição. Compreende-se que o principal objetivo dos rivais seja o campeonato nacional, o qual têm legítimas aspirações de conquistar, mas não seria de esperar mais dedicação quando, além de jogarem o seu nome, colocam em causa, também, o nome do país?

Dia 25 fecham-se os 16 avos de final da Liga Europa edição 2015/16. Entre duelos apelativos (Napoli-Villarreal ou Tottenham-Fiorentina) e outros nem tanto, duas equipas portuguesas entram em campo, sabendo que o Sp. Braga já carimbou a passagem para a próxima fase. O Sporting, que vai ao dificílimo terreno do Bayer Leverkusen com uma desvantagem (0-1) e o FC Porto, que recebe o renovado Borussia Dortmund, a necessitar de uma enorme vitória, têm caminho livre para o... afastamento, para o qual até os adeptos dos clubes lusos já parecem estar mentalizados.

Porém, nem tudo está perdido. Dar a volta à eliminatória é uma tarefa homérica que, para suceder, iria precisar de uma conjugação extremamente favorável de diversos fatores que, por norma, não gostam de estar juntos. Além do mais, os adversários são, como sabido, de uma competitividade brutal, sendo de antever que façam uma excelente campanha europeia. No entanto, há algo que apenas depende dos atletas sportinguistas e portistas: a vontade. Conseguir segurar a bola quando ninguém esperava, fazer um sprint para impedir um pontapé de canto desfavorável, disputar herculeamente o controlo do esférico ao minuto 85 quando as forças escasseiam – tudo pormenores por si só insignificantes mas que, no seu cúmulo, podem, por vezes, decidir jogos – ou pelo menos satisfazer os apoiantes. E é isso que estes seguramente aguardam da sua equipa: que façam uma exibição positiva, pautada por um esforço constante, que acreditem, até ao fim, na possibilidade de seguir em frente, de derrotar os gigantes que têm pela frente. Se assim for, a queda será apenas um pretexto para se reerguerem.

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar com o VM aqui!): António Hess

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