Apanha-me se puderes

Não é o jogo do ano, nem tão pouco o jogo do título, mas o Benfica-Porto pode esclarecer muita coisa no que ao título diz respeito. Em campo entram duas equipas a seguir trajectórias bem distintas. O Benfica vem de oito vitórias consecutivas para a Liga, os seus últimos jogos têm sido traduzidos em goleadas, e finalmente alcançaram o Sporting na liderança. Já o Porto, viu perder essa liderança aquando da visita a Alvalade, mudou de treinador, vem de uma derrota caseira frente ao Arouca, e vê os rivais de Lisboa a meia dúzia de pontos de distância.

Se por um lado Rui Vitória parece ter sacudido a pressão de treinar um grande, e finalmente terá ajustado o banco do Ferrari de modo a obter uma condução segura, já José Peseiro parece estar ainda a ler o manual de instruções do seu veículo. A juntar à pesada herança basca, o treinador do Porto tem ainda de contar com as lesões de Maicon (com tudo o que veio associado) e Marcano, que claramente baralharam a abordagem ao clássico.

Por estas razões, o Benfica parte como favorito e em clara vantagem emocional, mas na prática o jogo começa a zeros, e o Porto tem, ou tinha, como tradição responder a preceito nestes momentos decisivos. Por outro lado, este é um bom teste às verdadeiras aspirações do Benfica, não só pela teórica capacidade do oponente, mas também pelo significado da partida, pois uma vitória encarnada põe um ponto final nas aspirações azuis e brancas, e obriga o Sporting a vencer no dia seguinte, sob pena de ver o rival disparar.

Mas como no futebol as dúvidas são mais que as certezas, seguem-se algumas questões em aberto, e cuja resposta pode ser determinante para o desenlace final.

Forte contra os mais fortes?
O Benfica tem trucidado os recentes adversários, mas ainda carrega o ónus de somar quatro derrotas frente aos rivais directos. O jogo de Sexta parece ser o ideal para inverter a tendência, dada a fragilidade actual do Porto. No entanto, os portistas possuem individualidades que podem decidir uma partida, e os encarnados mostraram alguma dificuldade em lidar com equipas que os obriguem a transições defensivas rápidas e eficazes.

Triângulo ou losango?
Que José Peseiro é adepto de um quarteto de médio é público, mas dificilmente conseguirá implementar esse modelo a curto prazo. Ainda assim, pode perfeitamente testar um trio composto por André André, Herrera e Ruben Neves (assumindo que Danilo pode recuar), com Brahimi a jogar como médio ofensivo, atrás de uma dupla mais avançada, dificultando assim o jogo interior de Gaitan e Pizzi.

Será desta, Jonas?
O brasileiro anda de pé quente, mas carrega o rótulo de desaparecer nos jogos decisivos. Embora tal conclusão seja verdadeira, muitas vezes nem é por sua exclusiva culpa, pois a própria postura colectiva (como o ano passado em Alvalade, em que o Benfica se limitou a defender) dificulta o seu trabalho. Considerando que o Benfica vai ter uma postura atacante e ir atrás da vitória, está na hora do avançado se mostrar neste tipo de partidas.

E na frente joga quem?
Aboubakar tem estado mal, e não tem primado pela eficácia. Em Alvalade podia ter virado o rumo aos acontecimentos, mas falhou redondamente na cara de Patrício, e o seu rendimento está muito aquém do esperado. O coreano Suk é uma opção, mas não tem tarimba, e ainda lhe faltará o necessário entrosamento com os colegas. O outro reforço de Inverno, Marega, pode ser aposta, numa perspectiva de usar a sua velocidade num sistema que privilegie o contra-ataque, e tente explorar os espaços.

Dominador ou nem por isso?
Renato Sanches está ligado à subida de rendimento do Benfica. Vitória procurou solução para segundo médio, e encontrou no jovem médio a resposta. Sanches (ou Sanchez, para os entendidos) tem sido preponderante na primeira fase de construção, trazendo velocidade a um processo cuja lentidão e imprecisão emperrava o jogo ofensivo. Porém, ele continua a demonstrar alguma dificuldade em ocupar o espaço defensivo, dificuldade essa bem disfarçada graças a uma disponibilidade física muito acima da média, que lhe permite recuperar terreno. Se contra adversários que ataquem pouco, e com poucas unidades, tal não é problemático, frente a um Porto inspirado, o desfecho pode ser diferente.

O parceiro de Indi é?
Sem Maicon e Marcano, Peseiro terá de improvisar. Uma opção é recuar Danilo, mas o ex-Marítimo não tem a velocidade necessário, e tirá-lo do miolo implica perder o melhor elemento em termos de recuperação e pressão. O jovem Chidozie é o único central disponível, mas estrear um jovem num jogo desta importância tem imensos riscos associados.

Artur Soares Dias?
Nomeação natural, daquele que é reconhecido, a par de Jorge Sousa, como o melhor árbitro da actualidade. A recente arbitragem de Rui Costa no Dragão veio colocar ainda mais o foco em ASD que, sabendo que errar é humano, tentará ser o menos humano possível. Se o jogo for equilibrado e competitivo, dificilmente deixará de ser polémico, mas a grande questão que se coloca antes destes clássicos é saber qual a postura no plano técnico (vai deixar jogar, ou apitar a tudo de modo a tentar controlar o jogo) e disciplinar (malha apertada desde o apito inicial, ou adiar ao máximo a amostragem de cartões), e se a mesma é coerente ao longo do noventa minutos.

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