O ano em que os deuses caíram

As diversas mitologias estão repletas de personagens descritas como sendo invencíveis, mas que a certo momento das suas vidas pereceram às mãos de outros mais fortes ou astutos. O ano de 2015 foi aquele em que o Panteão se esvaziou, pelas mais diversas razões, e os Deuses se transformaram em meros mortais.

A derrota de Ronda Rousey foi, e ainda é, considerada como uma das grandes surpresas de 2015 no desporto mundial. A lutadora não só estava invicta, como demonstrara até Novembro uma superioridade tão grande em relação às suas adversárias, que a maior dúvida era saber quanto tempo aguentaria Holly Holm até ceder. Mas as previsões saíram furadas, e Rousey não só caiu, como caiu com enorme estrondo, depois de seis minutos de sova continuada. A UFC perdeu uma das suas cabeças de cartaz, lutadora invencível, capaz até de rivalizar com uns Mayweathers, sobrando apenas uma carinha outrora laroca, agora desfeita pelas violentas pancadas da nova campeã.

Mas Ronda não foi a única a descer à terra. José Aldo, que não perdia desde 2005, foi arrumado em meros 13 segundos por Conor McGregor. O irlandês, que muitos não levaram a sério aquando da sua chegada à organização, tornou-se assim o novo campeão da sua categoria, e mostrou que os seus punhos acompanham a língua afiada.

Outro campeão que foi ao tapete foi Jon Jones. Aquele que era considerado o melhor pound-for-pound do Mundo não perdeu no octágono, mas também ele caiu em desgraça. "Bones" envolveu-se num acidente automóvel, que meteu substâncias pelo meio, e a UFC não teve pejo em retirar-lhe o título. O azar de uns é a sorte de outros, e Daniel Cormier (que fora batido por Jones em Janeiro) capturou um cinto que parecia inacessível a qualquer lutador.

Quem também viu o seu legado estragado foi Cain Velasquez, que cedeu perante o brasileiro Fabricio Werdum. Tal como acontera no primeiro combate frente a Dos Santos, Velasquez foi completamente dominado e mostrou-se impotente frente ao até então campeão interino. A falta de ritmo e uma preparação deficiente poderão ter estado na origem de tão fraco desempenho, mas o facto é que o lutador de ascedência mexicana tem falhado demasiado para quem é supostamente um dos melhores e mais dominantes do mundo.

Rafael Dos Anjos obteve o título de Leves, entretanto já defendido com sucesso, e Luke Rockhold terminou com a invencibilidade de Chris Weidman, curiosamente na mesma noite em que Aldo foi derrotado.

Finalmente, Anderson Silva. O brasileiro regressou, e com uma vitória, mas foi posteriormente suspenso devido ao uso de substâncias ilegais. Péssima maneira de fechar uma carreira brilhante, bem pior que duas derrotas às mãos de Weidman.

E por falar em lendas... Fedor Emelianenko vai combater dia 31 de Dezembro, no Japão, defrontando o kickboxeer indiano Jaideep Singh.

Ano de 2015
O melhor: António Rodrigo Nogueira
Minotauro apenas lutou uma vez, e perdeu, decisão que precipitou a sua (mais que esperada, e tardia) retirada de competição. Um ícone da MMA que lutou com os melhores de entre os melhores, deixou momentos inesquecíveis, e foi um pioneiro na expansão da modalidade enquanto espectáculo global.

O pior: Dan Henderson
O veterano teima em continuar, mas não traz nada de bom nem a ele, nem ao desporto. Em 2015 foi derrotado duas vezes por KO, o que dá que pensar, pois antes de 2013, nunca havia sequer perdido deste modo.

A surpresa: Holly Holm
Não podia deixar de ser... Holm era uma séria ameaça, mas nada mais que isso.

A desilusão: Renan Barão
O brasileiro deixara má imagem no último encontro com Dillashaw, quando foi hospitalizado em consequência do corte no seu peso. Quando finalmente se encontraram, o seu desempenho deixou muito a desejar, mostrando total inoperância frente ao campeão.

O momento: Demetrious Johnson derrota Kyoji Horiguchi
Uma vitória de Mighty Mouse não é surpresa, mas uma  submissão, aos 4:59 minutos do último assalto, é algo para ficar nos livros.

E 2016?
Já existem combate agendados, num dos quais Cain Velasquez tentará provar que a sua derrota foi mero acidente. A Werdum cabe não fazer o papel do conterrâneo Junior Dos Santos, que venceu com facilidade Velasquez no primeiro combate, mas foi atropelado nos dois seguintes.

Espera-se também o regresso de Dominick Cruz, que finalmente irá tentar conquistar um título que nunca perdeu no ringue.

A rivalidade McGregor-Aldo também deve ter continuidade, restando saber em que divisão, pois ambos mostraram interesse em subir de peso. À espera dos dois estará calmamente o campeão Dos Anjos.

Com o regresso de Jon Jones à UFC, é difícil não prever um reencontro com Cormier, até porque se trata de uma divisão algo frágil em termos de talento global.

Pelo contrário, a Luke Rockhold não faltam pretendentes. A começar por Weidman, e não esquecendo Yoel Romero e Jacaré Souza. 

Por último, Ronda Rousey. O super-combate frente a Cristiane Justino já não deve estar nos planos de Dana White, mas a possibilidade de vingar a derrota sofrida perante Holly deverá ser uma realidade em 2016.

A seguir:
Alistair Overeem: o holandês desiludiu no seu ingresso na UFC, com derrotas inesperadas, desempenhos fracos e problemas com substâncias proibidas. Mas em 2015 manteve-se invicto, e fechou o ano com um KO em cima de Junior dos Santos, o que claramente o coloca (finalmente) na linha da frente para um combate pelo título.

Khabib Nurmagomedov: é uma questão de tempo até o russo enfrentar Dos Anjos, e caso as lesões o deixem, esse dia pode chegar em 2016. O último combate do imbatível Nurmagomedov foi em 2014... frente ao actual campeão de Leves.

Phil Brooks: jogada de marketing ou algo mais? Espera-se a estreia de CM Punk em 2016. A não perder, ou uma reedição de Kimbo Slice?

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar com o VM aqui!): Nuno R.

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