Intensamente azul, como 2015

2015 faz as malas. O momento é especial mas tem a noção de que o passado esteve longe de ser imaculado. Houve melhores e piores jogos, com a nota da incerteza inversamente distribuída no decorrer do ano, e um percurso europeu uma vez mais meramente fraco. Enquanto procura arranjar espaço para os acontecimentos finais, lamenta um final de campeonato carregado de monotonia e finais de Wembley algo desequilibradas. O Chelsea foi um campeão tão indiscutível quanto polémico, ao não ver a qualidade do seu jogo andar de mãos dadas com as sucessivas vitórias. Ainda em Londres, o Arsenal, com o habitual timbre que marca as suas melodias - futebol atrativo e grande inconsistência -, arrecadou os restantes troféus. Regressando ao campeonato, o resto da zona europeia não abriu espaço a surpresas e reinou a previsibilidade no que toca aos despromovidos. Cinzento término. Nem uma das melhores edições de sempre do Championship serviu para atenuar esse marasmo. De lá, saíram o sonhador Bournemouth, o turbulento Watford, e o surpreendente Norwich - tudo apontava para o regresso do Middlesbrough -, substituindo assim os infortunados Hull, Burnley e QPR. No Verão, como é usual, renovaram-se as expetativas. Assistiu-se a investimentos ainda mais avultados embora poucos tenham escapado aos habituais erros de casting. O poder dos milhões nem sempre falou mais alto e de zonas mais modestas emergiramunderdogs com manias de gente grande. "Leicester, Watford e Palace", já todos sabem o verso de cor e salteado.

2015 encara-se ao espelho: equipa-se de azul. De um azul intenso, fazendo jus ao ano prestes a terminar. De azul se vestiu o dominante campeão, de azul se veste uma das maiores surpresas da história dos campeonatos ingleses, e mesmo que em tons celestes, é azul a cor daquele que parece ser o grande favorito ao título - City -, atendendo à multiplicidade de opções ao seu dispor. 2015 é de um intenso azul, mas também faz-se de nomes. Começando pelo baile dos bancos, vários foram aqueles  que escorregaram após uma coreografia que até estava a corresponder aos mais altos parâmetros da estética, não aguentando assim a pressão do sucesso - em diferentes medidas. Aka Mourinho, Monk, Advocaat e Sherwood. Triunfantes, foram aqueles de quem menos se esperava, sobretudo Ranieri e Quique Flores. Ao italiano, nomeadamente, é justo conceder o título de melhor do ano pelo milagre que vai operando em Leicester. Nota ainda para os trabalhos de Pardew, Hughes e Pulis nos respetivos clubes, assim como para a chegada do entusiasta Klopp, que fica assim à espera do regresso do Special One e do ingresso de Guardiola e Simeone. Passando para dentro de campo, até maio só deu Hazard e Alexis, enquanto as sensações Mahrez, Vardy e Ighalo foram donos e senhores nestes últimos cinco meses. No cômputo geral, distinguir Özil e, de forma a valorizar essa posição tantas vezes ignorada, De Gea, é ajustado. No baú das memórias, insere-se agora um álbum de Gerrard. O Skipper saíu sem se tornar campeão, embora sob uma arrepiante manifestação de apoio aquando do último encontro disputado. Ele sabe que jamais caminhará sozinho.

Chegou a hora da partida. 2015 aproveita os derradeiros instantes para percorrer aquelas que foram as últimas rondas do ano civil. Liverpool, Tottenham, e Stoke, imponentes em casa e suficientemente matreiros fora de portas, merecem todos os elogios ao se consagrarem nas únicas equipas a vencer por duas vezes em apenas três dias (no caso dos Reds em cinco). Sunderland, Leicester, Watford, Norwich, Everton e United foram as vítimas. A turma de Van Gaal que até deu uma resposta positiva no (pouco atrativo) clássico diante de um Chelsea ainda em recuperação; contudo exigia-se os três pontos. A situação não deixa de ser mais caótica para os agora pupilos de Hiddink, que vêem a Red Zone a apenas três pontos. Circunstâncias que não se revelam mais dramáticas graças ao deteorar da situção de Villa, Sunderland e Newcastle. Ou cada um destes clubes toma medidas severas neste defeso, ou serão mesmo os três emblemas a abandonar o máximo escalão inglês. É que nestas contas a história e a massa adepta atrás de si não vale de nada. Para o mal, e para o bem. Que o diga o Leicester, que vai mesmo passar o Reveillon na liderança, se bem que com companhia. O facto de não ter marcado pelas únicas vezes nesta liga e de ter somado um ponto apenas não beliscam de forma alguma este épico percurso. É curioso reparar que a ronda Pós-Boxing tenha sido mais animada  que o próprio. E eis que se sente o estremecer da porta. Encontra-se lá 2016, com uma ânsia de entrar que faz questão de não embuçar. Não há tempo para mais. 2015 dirige-se à saída, dá as boas-vindas ao novo ano, abandona a casa e mergulha no infinito. Daqui em diante, tudo o que terá para oferecer serão as lembranças.

Onze Ideal das Jornadas 18 e 19 da Premier League: Fabianski (Swansea); Clyne (Liverpool); Williams (Swansea); Alderweireld (Tottenham); Bertrand (Southampton); Henderson (Liverpool); De Bruyne (Manchester City); Shaqiri (Stoke); Arnautović (Stoke); Kane (Tottenham) e Ighalo (Watford).
MVP: Arnautović (Stoke). À atenção de Portugal. A Áustria, adversário no Euro 2016, não se resume ao melhor lateral esquerdo do mundo. E o extremo é exemplo disso. Num ano em que até se poderia esperar um diminuir do seu protagonismo com a chegada ao Britannia de 'vedetas', como Shaqiri ou Afellay. Os dias 26 e 28 em particular foram de sonho, para ele e para todos aqueles que o escolheram no fantasy. Elemento essencial numa linha de ataque por si só já bastante móvel e letal nas transições, mostrou ainda especial apetência no momento de chegar ao golo, bisando tanto nos tentos alcaçados como nas assistências.
Jogador a Seguir: Aké (Watford). Sobre os melhores panos caem a nódoa e o sub-21 holandês bem se pode queixar disso. A forma como é expulso e de certa forma compromete a sua equipa na última segunda acaba por ser algo ingrata se verificarmos a excelente época que está a ter. Pedra basilar na defesa minuciosamente montada por Flores, vai denotando dotes de deixar qualquer central do Chelsea - clube que o tem emprestado - invejoso. O regresso a Stamford Bridge pode muito bem ser uma realidade para os próximos tempos, caso mantenha o nível e haja bom-senso por parte dos representates do clube londrino.
Treinador da Jornada: Mark Hughes
Melhor Jogo: Everton vs Stoke (3-4)
A Desilusão: Hazard e companhia. Afinal não se tratava apenas de uma questão pessoal com Mourinho. O belga está mesmo a milhas daquilo de que é capaz. Ou daquilo de que foi. Mou no último Verão chegou a dizer que o extremo merecia estar pelo menos no pódio da Bola de Ouro e que até tinha sido melhor que Ronaldo. No entanto, nesta temporada, só é capaz de entrar em listas de "piores". Os dribles, outrora um dos princiapais atributos, teimam em não sair como dantes, a capacidade de desmarcação e de fazer desmarcar é quase que inexistente e no momento da finalização nota-se uma desinspiração tremenda (terminou a 2.ª metade com zero golos). A sua ausência dos onzes iniciais já nem sequer se revela uma surpresa. Em boa verdade, não vale a pena esconder a mediocricidade que têm sido as exibições de vários outros nomes dos quais se esperava outro nível. Ivanović, Matić e Pedro, só para citar alguns. Os guarda-redes, Zouma e Willian, têm sido dos poucos a honrar a camisola. A ver vamos se a passagem de ano provoca uma mudança de paradigma em Hazard e restantes colegas.
Menção Honrosa: Carlos Carvalhal. Mora em Sheffield o português do momento em Inglaterra. Ao comando técnico do Wednesday, antevia-se um Championship bastante complicado, atendendo à realidade completamente diferente que o técnico português iria encontrar. Certo é que o ex-Sporting, importando algum do produto português e exibindo todas as suas competência técnicas, chegou, viu, e vai vencendo mais vezes do que aquelas de que se poderiam estar à espera. Os Play-Offs de subida à Premier League, um objetivo que parece perfeitamente ao alcance do quarto melhor ataque do campeonato, estão a apenas 4 pontos e a derrota aos pés do Middlesbrough não parece abalar essa meta. Que 2016 seja teu amigo amigo Carvalhal... Teu, e de todos os leitores e comentadores do Visão de Mercado, pois claro!

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar com o VM aqui!): Marco Rodrigues

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