É inegável que, por mais que se tente puxar jogadores do passado para o presente de maneira a manter rótulos que não correspondem à realidade, a formação do Sporting atravessa uma das piores fases dos últimos 30 anos, e como tal está menos apetrechada. Mesmo assim continua a ser possível identificar jovens que, pelo rendimento que mostram, mas principalmente pela margem que aparentam ter, são candidatos a atingir o estrelato e a equipa principal do clube.
Quando a geração de 98 ficou afastada da fase final do campeonato de Juvenis em 2014-15 - algo histórico e inédito pela negativa em Alvalade - logo passou a ser vista como uma das mais fracas da Academia de Alcochete, algo que na verdade não corresponde à realidade dado o potencial dos jogadores que a compõem. Nomes como Conté, Tiago Dias (que saiu para o Benfica), Moreto (o destino foi o FC Porto) e, principalmente, Pedro Ferreira e Bruno Paz sempre foram dos melhores da geração a nível nacional. E tem sido exactamente essa a base da actual equipa de Júniores dos Leões, que vai fazendo um percurso irrepreensível nesta 1.ª fase do nacional - apesar da política dos rivais da mesma série ajudar -, mas que vem desmistificar essa ideia de inferioridade dos anteriores sub-17.
E é exactamente na actual equipa dos sub-19 que, entre os muitos elementos de 1.º ano que vão sendo titulares, aparecem dois nomes com potencial suficiente para almejarem a equipa principal do Sporting, quem sabe ainda na era de Jesus. O primeiro, Pedro Ferreira, é o médio defensivo (tem actuado num duplo pivot ao lado do então denominado de "Novo Pogba", Bubacar Djaló) que mais rendimento tem apresentado na presente época no seu escalão. Desde a equipa de iniciados sempre se diferenciou por ter atributos invulgares nos médios portugueses: Poderoso fisicamente (apesar de ainda não mostrar indícios de o saber utilizar), forte nos primeiros metros em aceleração, capacidade de transporte, capaz na chegada à área (apesar de não ser hábil na finalização) e uma disponibilidade para o jogo pouco normal para a idade. Ainda assim o internacional sub-18 tem lacunas no passe longo e num estilo de jogo apoiado, mais por não entender bem o jogo (procura sempre acelerar e o passe vertical quando nem sempre é a melhor solução) do que por deficiências técnicas. O material está lá todo para quem o souber aproveitar, seja na posição 6 ou 8, e o perfil do médio até parece encaixar naquilo que Jorge Jesus procura para a posição.
Mais atrás, ou talvez não, surge Bruno Paz. O polivalente defesa/médio tem oscilado muito na posição que ocupa em campo ao longo da formação. Já fez central, lateral direito e médio de cobertura e ainda há alguma indefinição naquilo que pode ser num patamar profissional. Na presente época o seu lugar tem sido na direita, onde tem mostrado alguma evolução (cada vez melhor sem bola, sabe compreender o que a posição pede, muito embora tenha dificuldades na contenção ao portador e no esperar de apoios quando enfrenta o adversário sem pressão). Ainda assim, o foco está nas características naturais do jogador e naquilo que pode evoluir num contexto de maior dificuldade. O seu estilo físico é parecido ao de Pedro Ferreira (ligeiramente mais baixo e ágil), sendo mais rápido e agressivo que o primeiro. Tecnicamente tem mais argumentos que alguns elementos da equipa A, nomeadamente ao nível do jogo interior e do cruzamento. Comparando a um jogador que fez um percurso de polivalência até agora (Ricardo Esgaio), parece muito mais dotado para a posição, o que leva a crer que, em condições normais, terá o seu espaço.
No entanto, e em jeito de crítica, custa a entender o não abrir de espaço na equipa B do Sporting a elementos como os referidos. Que nesta fase estão claramente a mais na equipa de sub-19. É urgente limpar os excedentários no conjunto secundário dos leões e dar a possibilidade aos mais talentosos, como acontece no Benfica, de competir numa liga profissional onde os desafios são naturalmente maiores.
VM Scouting: João Magalhães
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