O regresso de Andrés Iniesta I

“No puede haber gracia donde no hay discreción."  Miguel de Cervantes

Sebastião I desapareceu em 1578 na Batalha de Alcacér-Quibir, en Marrocos. Como não tinha descendentes, a cora passou a Filipe II, depois de um enfrentamento militar em 1580. A unificação da Península Ibérica durou menos de um século, já quem em 1640 a nobreza Portuguesa revoltou-se contra Felipe IV e o Conde-Duque de Olivares (ao mesmo tempo também decorreu na Catalunha a Guerra dels Segadors)

Andrés Iniesta voltou a brilhar no El Clássico. Foi um momento Sebastianista. De entre o nevoeiro, todos os Culés viram sair uma figura pálida com a camisola número 8 vestida. Conta a lenda que o Rei Sebastião não morreu e, um dia, regressaria entre a bruma trazendo consigo a prosperidade. Nesse dia, atravessaria as colunas do rei Salomão, con a água pelos joelhos, cruzaria a praça do Comércio, inclinar-se-ia perante a estátua de D. José I e entraria na cidade através do monumental arco da rua Augusta. Iniesta irrompeu sábado no Bernabéu e trouxe a prosperidade.

O jogo de Don Andrés foi soberbo. Foi organização, controlo, dança erótica, agressividade, classe, estética, subtileza. Brutal. Parecia ser mais do que um jogador. Com remate potente e eficaz. Com sensibilidade poética no trato do esférico. Com organização e disciplina pretoriana. E com alguns traços de uma finura certamente vertiginosa. Lembro-me de passear pelo centro de Bologna com um amigo Lisboeta, do bairro de Telheiras, falando sobre Pessoa. Ele disse-me que este não só cria personagens: Pessoa cria autores. A manifestação de outra personalidade dentro de Pessoa, uma personalidade muito mais apropriada para exprimir algo que o próprio Pessoa nunca exprimiria. O médio ofensivo do Barcelona bem podia ter estado lendo Pessoa, que também foi Sebastianista, antes do jogo.

Gabriel Magalhães, actualmente  professor de Literatura na Universidade da Beira Interior, acredita que há um Quijotismo castelhano e um Quijotismo português que é o Sebastianismo, e acredita ainda que também há un quijotismo catalão: a paixão pelas que pretendem mudar a realidade através de ética. Andrés Iniesta, um manchego, a terra de Don Quijote, que também se sente Catalão. Criado na ética, nos "valores" de La Masia, na convicção que o trabalho duro e o esforço podem alterar o modo de jogar de todo um clube. E aplaudido, com elegância, pelo Estádio do eterno rival.

Roc Solà (versão original em https://latrivial.wordpress.com/)

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