Tic tac, tic tac, tic tac. Aula de estudo do meio, o tempo insiste em não passar. A impaciência começa a instalar-se, à medida que o relógio avança em contagem decrescente para o intervalo grande. Após períodos infindáveis de espera, soa a campainha, o que (quase) equivale a dizer ao apito do árbitro para o início da final do Campeonato do Mundo. Durante 25 minutos a felicidade invade o corpo dos gaiatos que, nessa altura, são impotentes para perceber que se trata de um dos períodos mais belos e serenos da sua vida. Replicá-lo só estará ao alcance de muito poucos, possivelmente, dos predestinados que, um dia, colocarão a mão no peito enquanto entoam o hino da sua nação. Aos outros, aos desafortunados sobejam as nostalgias. Nostalgias de quem, noutrora, se viu confrontado com a questão “O que queres ser quando fores grande?”. A resposta pronta: “Jogador de Futebol”.
Gianluigi Donnarumma, 16 anos, 1.97m. À primeira vista, pode parecer um jovem com capacidades lustrosas para vingar no mundo da NBA. Puro engano! Trata-se do dono da baliza - nas duas últimas partidas - de um dos mais famigerados clubes do futebol mundial. Ultrapassado recentemente o período pubertário, o jovem italiano que, segundo se sabe, foi desde tenra idade (mais tenra ainda!) ‘manietado’ – num caso menos sintomático que as ginastas chinesas – para brilhar nas balizas dos grandes ‘teatros’ europeus, salta do anonimato para a ribalta, qual Justin Bieber, e deixa os amantes do futebol mundial, em particular os rossoneri, com água na boca. Os supersticiosos dirão que o primeiro nome não é acidental. Caso não, Gianluigi terá fortes possibilidades de ser incluído no restrito lote supramencionado, seguindo as pisadas do legendário Gigi Buffon…
O feito de Donnarumma tem-se propagado – se bem que com mais algumas ‘velas sopradas’ - por esses palcos do futebol europeu. Em Portugal, há Neves, Guedes ou Jota. Num panorama internacional, poderiam ser incluídos Weigl, Martial ou Živković. Enfim, uma catadupa de jovens que buscam um “lugar ao sol”.
Mas, afinal, quais são os ingredientes necessários para passar de ‘sprinter’ a ‘camisola amarela’?
a) Sistema tático/Ideologias de jogo congruentes com as características do jogador (mecânico?) – pode transluzir um subterfúgio: “o bom jogador joga em qualquer posição”. A mecanização de ideias de jogo começa a ser uma realidade nos escalões de formação. Ilustrando com um exemplo radical: jogador acostumado a privilegiar a posse durante largos períodos do seu crescimento - em que tocar na redondinha se afigurava como “prato do dia” – estará capacitado a jogar numa equipa de transição rápida, em que os toques na bola se podem condensar a meia dúzia?
b) Treinador arrojado, capaz de preconizar e pacientar – lançar ‘às feras’ jovens de tenra idade não está ao alcance de todos. Ganhar no imediato é, no futebol contemporâneo, uma realidade vincadíssima. Salvo raras exceções, a maioria dos executantes apresenta-se como um projeto, que precisa ser consolidado para obtenção do produto final. Limar arestas tem duração indeterminada e, para o ‘resultadismo’, pode não existir compaginação.
c) O aspeto mental – nascer com “bons pés” não é necessariamente análogo a “shalom” nas situações adversas ao jogo. Enveredar a camisola da equipa principal – escondam-se as balanças – comporta mais peso que o ‘habitué’. A juntar às diferenças no auditório: 150 indivíduos não provocam a “tremedeira” que 30 mil instigam.
d) Comportamento ‘fora das 4 linhas’ – o futebol abre portas com fechaduras dúbias: a persuasão dos agentes e as atrações noturnas são dois de vários exemplos. Esquecer uma janela aberta, pode causar uma intempérie nefasta…
e) Balneário – a mescla de jogadores de um plantel assume papel significante. O conflito de 20/25 personalidades é um desafio complexo e integrar jovens promissores nem sempre é visto com “bons olhos” por parte de alguns elementos. Perder o lugar para um ‘miúdo’ de 18/19 anos é, por vezes, um rude golpe na cabeça de um veterano e um “mau balneário” pode hipotecar o sucesso individual e/ou coletivo.
f) Trabalho/talento – um binómio repisado – e que deve assumir um compromisso perpétuo - até à exaustão e, presumivelmente, com a maior percentagem para granjear o estrelato. É fundamental encontrar um equilíbrio, capaz de potenciar as características do atleta, elevando-o ao patamar máximo dos seus recursos.
O rebento de CR7 é mais conhecido que Fábio Paim. O ciclo de vida das trivelas de Quaresma coaduna-se com as indicações de um maestro para o seu elenco. Moutinho foi capitão aos 20, Neves aos 18… Presságios?
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