‘Dá Deus nozes a quem não tem dentes’ (?)

Os treinadores têm um papel ingrato. Dar as mãos aos handicaps não é uma opção, mas antes uma obrigatoriedade. Se de Royal Rumble se tratasse, a submissão passaria por entrar em primeiro lugar no ringue, proceder a amizades presentâneas e pulverizar, um a um, os contendores. Se poker, um cenário não menos tenebroso: uma ficha para amostra, com o objetivo de ‘ressuscitar’ várias vezes e alcançar o éden.

Julen Lopetegui Argote é caso excecional. No primeiro caso talvez não fosse obrigado a abrir as hostilidades. No segundo, porventura, seria dono de orçamento mais adornado. A margem de erro seria maior, mas nem por isso a montra final estaria garantida. E bem, a verdade é que o suspense está em níveis altíssimos, as pulgas a fazer demasiadas cócegas e o palpite do espanhol sem querer sair.

Lopetegui chegou a Portugal após o seu antecessor, Paulo Fonseca, não ter correspondido às expetativas. Chegou e encontrou um país em recessão, mas, tal como lhe tinha sido prometido, as visitas-guiadas aos minérios foram uma realidade. O primeiro ano resumiu-se a uma palavra: fracasso. O FC Porto tinha as melhores condições no comparativo com os rivais, porém não se mostrou capaz de destroná-los, quer no Campeonato, quer na Taça de Portugal (e… da Liga).

A segunda oportunidade foi dada – admitir que falhou na contratação de treinadores em dois anos consecutivos mancharia a imagem de Pinto da Costa – contudo o técnico está em dificuldades físicas e os créditos de jogo têm vindo a eclipsar-se. É-lhe reconhecida a especialidade em ‘flirts’: lançou Neves às feras antes deste sequer andar de veículo próprio, obteve vitórias claras sobre tubarões europeus (Chelsea ou Bayern) e, a espaços, vai dando um ar das origens rendilhadas (um golo após 22 toques na bola não se vê todos os dias); mas, nesta altura, as juras de amor eterno deviam começar a passar na cabeça do hispânico.

A deferência de PDC já o obrigou a algumas alterações, nomeadamente a nível da diminuição de rotatividade. Resta perceber o nível de compromisso que conseguirá atingir. Uma coisa é certa: Josué não é Imbula, Licá não é Tello e Carlos Eduardo não é Brahimi.

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar com o VM aqui!): Renato Santarém

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