Juventus versão 2015-16: Repetir os êxitos da temporada transacta‏

Desde que Andrea Agnelli tomou posse da Juventus em 2010, o clube mais titulado do futebol italiano tem gozado um dos períodos de maior sucesso na sua história e a última temporada não foi excepção. A saída conturbada de Antonio Conte gerou algum mal-estar mas a direcção do clube não perdeu tempo com o anúncio do seu sucessor. A aposta em Massimiliano Allegri foi encarada com algum cepticismo, mas o técnico natural de Livorno provou estar à altura do desafio, conduzindo a Vecchia Signora à sua temporada mais bem-sucedida, desde que se abateu em Itália o escândalo de viciação de resultados - popularizado como “Calciocaos” - e que culminou com a despromoção da Juventus ao segundo escalão. Depois de garantir o tetracampeonato de forma precoce, os comandados de Allegri arrecadaram a Taça de Itália, 20 anos depois da última vitória na competição, alcançando a terceira dobradinha na história do clube. A última temporada marcou também o regresso da Vecchia Signora à elite do futebol europeu. Depois de deixar pelo caminho o Real Madrid nas meias-finais, a Juventus repetiu uma presença na final da Liga dos Campeões, 12 anos depois, caindo porém aos pés de um Barcelona apoiado numa frente de ataque de sonho. Ciente do legado construído pelo seu antecessor, Allegri não se apressou a atribuir o seu cunho pessoal à equipa. Depois de um par de exibições menos conseguidas, o técnico optou por romper com o 3-5-2 há muito enraizado, privilegiando - nas palavras do próprio - o “4-3 e depois logo se vê”. Para a nova temporada, com um esquema táctico semelhante, os objectivos passam por renovar o título nacional, o que a acontecer, significaria um pentacampeonato, algo só antes conseguido pela própria Juventus nos anos 30 e pelo grande “Toro” na década seguinte. Uma tarefa que se prevê mais complicada do que em campanhas anteriores, sobretudo dada a ameaça dos rivais de Milão - Inter à cabeça - que parecem ter finalmente acordado de um estado de letargia. A Lazio é uma equipa em clara ascensão no futebol italiano e a Roma julga ter reunido os argumentos necessários para ser de facto um candidato ao título. Por sua vez, o Nápoles parece estar finalmente nas mãos de um treinador capaz de exponenciar todo o talento de um dos plantéis mais bem apetrechados do futebol italiano. Na Liga dos Campeões, o objectivo mínimo passa por colocar a Juventus no seu lugar, isto é, entre as 8 melhores equipas da actualidade. Não sendo uma prioridade, a Taça de Itália é sempre encarada como uma oportunidade para engrandecer ainda mais o seu palmarés. O mercado de transferências ditou as saídas de Tévez, Pirlo e Vidal, três jogadores extremamente influentes nas últimas temporadas. Sem tempo para desfrutar do sucesso alcançado, a direcção da Juventus respondeu rapidamente com as contratações de Mandzukic, Khedira e Dybala, sobre quem recaem enormes expectativas. Embora o plantel esteja praticamente fechado, existem algumas posições que ainda deverão ser alvo de uns ajustes cirúrgicos. Como tal, o Visão de Mercado apresenta um esboço do plantel da Juventus para a próxima temporada.

GR: Neto, Buffon e Rubinho. Aos 37 anos, o estatuto de Buffon permanece intacto, assim como todos os atributos que o consagraram como um dos melhores guarda-redes de todos os tempos. Na última temporada, o capitão da Vecchia Signora (e da Squadra Azzurra) também aperfeiçoou o seu jogo com os pés, oferecendo aos seus companheiros de equipa um importante recurso na iniciação das jogadas ou nos momentos de maior aperto. Proveniente da Fiorentina, Neto chegou a Turim a custo zero e será a primeira alternativa a Buffon, assumindo um papel que foi desempenhado com distinção por Storari nas últimas cinco temporadas. Depois de acertar a sua renovação de contrato com a Juventus, o veteraníssimo de 38 anos rumou ao despromovido Cagliari, enquanto o promissor Leali foi novamente emprestado a uma equipa do primeiro escalão, neste caso, ao estreante Frosinone. Dado como dispensado, o brasileiro Rubinho, que já representou o Vitória de Setúbal, renovou contrato e continuará a ser a terceira opção para a baliza, fechando assim espaço à promoção do jovem Audero à equipa principal.
DD: Lichtsteiner e Padoin. Proveniente da Lazio, Lichtsteiner chegou a Turim em 2011 e converteu-se rapidamente num dos melhores laterais direitos do mundo. Conhecido pelo seu pulmão inesgotável, que lhe permite ser protagonista de inúmeros vaivéns pelo seu corredor ao longo dos 90 minutos, o internacional suíço será novamente um dos indiscutíveis para Allegri, independentemente do esquema táctico que este possa privilegiar. Fruto da sua enorme versatilidade, Padoin provou ser na última temporada um elemento extremamente útil para o seu treinador, e a quem este pode recorrer a qualquer altura. Como lateral - para ambos os corredores -, médio ou como alternativa para os derradeiros minutos, o italiano tem o seu lugar no plantel assegurado e continuará a desempenhar um papel semelhante ao de André Almeida no Benfica. Depois de uma experiência infrutífera em Inglaterra, Isla foi uma das unidades em maior destaque durante a Copa América, mas a Juventus deverá aproveitar a subida de cotação do internacional chileno para realizar um importante encaixe com a sua venda.
DE: Kurzawa (Mónaco) e Evra. Depois de dividir a titularidade com Asamoah numa fase inicial, Evra beneficiou da lesão prolongada do internacional ganês, para cimentar o seu lugar entre as escolhas iniciais de Allegri. Presença influente dentro e fora de campo, o antigo jogador do Manchester United foi essencial na última temporada, não só pela experiência que acrescentou, mas porque permitiu ao seu treinador implementar com sucesso uma defesa a quatro. Porém, dada a sua veterania (34 anos) e a ausência de um concorrente directo no plantel, urge a contratação de um novo lateral esquerdo, de preferência, jovem e com os melhores anos da sua carreira pela frente. Neste sentido, a opção mais lógica passa pela contratação do seu compatriota Layvin Kurzawa. Tal como Evra, também Kurzawa captou os olhares dos principais clubes do futebol europeu depois de dar nas vistas ao serviço do Mónaco, e depois de duas temporadas ao mais alto nível no Principado, o jovem de 22 anos está mais do que preparado para abraçar um desafio com esta dimensão. Uma mudança nesta altura não só lhe permitira beneficiar dos ensinamentos de um jogador mais experiente como Evra, como o poderia colocar de vez entre as escolhas do seleccionador nacional francês Didier Deschamps, em vésperas do Campeonato da Europa, que se realizará no próximo ano em território gaulês.
DC: Bonucci, Chiellini, Rugani, Cáceres, Barzagli e Romagna. A saída de Ogbonna para o West Ham implicava a chegada de um novo elemento para o eixo defensivo. Depois de uma fantástica época de estreia no primeiro escalão, Rugani foi premiado com um bilhete de regresso à casa-mãe. O jovem de 20 anos - emprestado ao Empoli - foi o único jogador de campo totalista na última edição da Serie A. Um feito que merece ainda mais elogios, se tivermos em conta que o conseguiu sem que lhe fosse exibido um único cartão. No entanto, as suas oportunidades na equipa inicial deverão estar algo condicionadas. Bonucci foi o elemento mais utilizado por Allegri na última temporada e cotou-se como um dos melhores centrais do futebol europeu. Para além disso, o internacional italiano - que já é um dos principais favoritos entre os adeptos - apontou vários golos decisivos e viu a sua importância na equipa reforçada com a renovação de contrato e uma melhoria substancial do seu salário. Apesar de ter ficado ligado ao golo do Dortmund em Turim ou ao do Real Madrid no Santiago Bernabéu, Chiellini - que também foi protagonista de um lance no Mónaco que poderia ter comprometido toda a eliminatória - continua a ser uma presença imprescindível na defesa bianconeri. Afastado durante grande parte da campanha por lesão, Barzagli regressou aos relvados nos meses decisivos para emprestar toda a sua sobriedade e efectividade ao sector, apesar da fama de “duro de rins”. Bastante apreciado por Allegri nos primeiros meses, Cáceres foi obrigado a terminar a temporada mais cedo por lesão. Se o internacional uruguaio - que iniciou os trabalhos de pré-temporada mais cedo que os companheiros, juntamente com Asamoah - se vir livre de lesões, pode-se tornar numa opção regular para Allegri, já que pode ocupar todas as posições no sector mais recuado. Numa temporada que se prevê tão longa quanto a anterior, o jovem Romagna, de 18 anos, poderá ter direito aos primeiros minutos junto da equipa principal. É o actual capitão da equipa Primavera da Juventus, pela qual se estreou com apenas 15 anos.
MDF: Marchisio e Donsah (Cagliari). Para responder aos constantes problemas físicos de Pirlo na última temporada, Allegri confiou a Marchisio o papel de regista e este superou largamente as expectativas. Aos 29 anos, o jogador criado na Juventus protagonizou a melhor temporada da sua carreira e foi recompensado com a renovação de contrato. Embora não possua a criatividade nem tão pouco a capacidade de Pirlo para temporizar o jogo, “Il Principino” acrescenta intensidade, clarividência e consistência defensiva ao meio campo da Vecchia Signora. Uma aposta que não é inédita no percurso de Allegri, já que em 2011, ao serviço do Milan, o técnico de 47 anos também privilegiou um jogador de características mais físicas – van Bommel, recrutado ao Bayern de Munique durante o mercado de inverno – em detrimento do repetente Pirlo. Neste caso, o desfecho foi mais pacífico, com a certeza de que Pirlo, aos 36 anos, já não vai a tempo de ressuscitar. Também não será estranho ver Khedira ocupar esta posição ao longo da temporada, mas Allegri quererá aproveitar a sua capacidade de pressão e recuperação de bola em terrenos mais adiantados, já que Vidal foi, na última temporada, o jogador que mais recuperações efectuou no último terço do campo. Sendo assim, abre-se uma vaga no plantel que poderia ser preenchida por Donsah. Nos últimos anos, a Juventus tem perpetuado de tal forma a sua hegemonia no futebol italiano que recrutou alguns dos jogadores mais promissores do Calcio e Donsah é mais um desses casos. O jovem de 19 anos, que deu nas vistas ao serviço do Cagliari, participou no último Mundial de Sub-20, no qual representou a selecção do Gana. À disponibilidade física – característica do jogador africano – Donsah acrescenta uma boa relação com bola e uma meia distância interessante. Para além da recompensa financeira, o emblema da Sardenha também poderia receber por empréstimo o colombiano Tello, que participou nos primeiros encontros de preparação para a nova temporada da Juventus.
MC: Pogba, Asamoah, Khedira, Sturaro e Vitale. Entre Pogba e Vidal, desde cedo se percebeu que um deles estaria de partida. Depois de uma temporada intermitente – condicionada por diversos problemas físicos – e em que “só” apareceu para carimbar a passagem à meia-final da Liga dos Campeões diante do Mónaco e para selar o título na visita à Sampdoria, Vidal regressou ao futebol alemão, agora para representar o Bayern de Munique, proporcionando um encaixe que poderá atingir os 40 milhões de euros. Em relação a Pogba, enquanto a sua mudança para Barcelona não se consuma – terá ficado “prometida” para a próxima temporada – o internacional francês continuará a assumir cada vez mais protagonismo na equipa. De resto, 2016 está destinado a ser o seu ano. Aos 22 anos, Pogba já é considerado de forma unânime como um dos melhores médios do mundo e a principal figura da selecção francesa, que acolherá o Campeonato da Europa no próximo ano. Uma eventual transferência para o Barcelona poderia fazer de Pogba, não só o jogador mais caro da história do futebol mundial – o primeiro a ultrapassar a barreira dos três dígitos – como o pior exemplo de gestão desportiva da mesma, depois de ter sido libertado pelo Manchester United em 2012 a custo zero. Um fenómeno de valorização sem precedentes. O restante leque de opções para o miolo é composto por Asamoah, que regressará à sua posição de origem; Khedira, que livre de lesões se poderá tornar num reforço soberbo; Sturaro, sobre quem todas as dúvidas em torno do seu valor ficaram desfeitas com a titularidade que Allegri lhe confiou no Santiago Bernabéu; e o jovem Vitale, proveniente da equipa Primavera. É considerado o sucessor de Marchisio e estreou-se pela equipa principal na última temporada quando ainda nem sequer tinha completado 17 anos.
MO: Nasri (Man City) e Pereyra. Oscar, Isco, Özil, Götze e finalmente Draxler. A Juventus procura desesperadamente um jogador que seja capaz de compensar a falta de criatividade provocada pelas saídas de Pirlo e Tévez. Dybala – melhor assistente da Serie A na última temporada – terá uma palavra a dizer neste capítulo, mas não é suficiente. É preciso alguém que traga novas ideias ao jogo e que não o torne chato, nas palavras de Allegri. A escolha poderia recair em Nasri, cuja presença do onze inicial do City parece comprometida após a chegada de Sterling ao Etihad Stadium. Em Turim, o criativo de 28 anos, que aparentemente foi colocado na lista de dispensas dos citizens, poderia assumir um papel de protagonista com o qual, jogadores com o seu ego se parecem dar bem. Lamela poderia ser outra das hipóteses em cima da mesa. Inadaptado ao futebol inglês, o internacional argentino poderia ser incluído num negócio que poderia levar Llorente no sentido inverso. Pereyra seria a primeira alternativa a um destes dois. O internacional argentino surpreendeu na sua temporada de estreia e convenceu os responsáveis da Juventus a partir para a sua aquisição em definitivo. As semelhanças com Vidal não se esgotam no aspecto físico ou no modelo de chuteiras que ambos calçam, e a qualquer altura poderá ser chamado por Allegri para uma posição mais recuada, a mesma que ocupava na Udinese.
EXT: Cuadrado (Chelsea). A Juventus necessita de um jogador no seu plantel, que através da sua qualidade técnica e velocidade, seja capaz de agitar uma partida, sobretudo aquelas mais fechadas, em que o nulo se arrasta para os minutos finais. Coman deixou muitos bons indícios na sua temporada de estreia, e parece merecer a confiança de Allegri, mas neste momento, o mais importante para a sua carreira é jogar regularmente e dificilmente o fará partindo como a 5ª opção para o ataque. Um empréstimo seria a decisão mais sensata. Cuadrado, que não viveu um período de adaptação fácil ao futebol inglês, também encaixa no perfil desejado. Se Mourinho garantir de forma atempada um substituto, poderia abrir-se uma janela de oportunidade. Por outro lado, dada a subida de produção de Pastore e a iminente contratação de Di María, o também internacional argentino Lavezzi, tem razões para temer pelo seu espaço na capital francesa, pelo que um regresso ao futebol italiano não está, para já, totalmente descartado.
AV: Dybala, Morata, Mandzukic e Zaza. A Juventus enfrenta a nova temporada com uma frente de ataque rejuvenescida. A partida de Tévez deixou um vazio enorme, mas a direcção não fez por menos, ao garantir a contratação do seu compatriota Dybala por uma verba que poderá atingir os 40 milhões de euros. As expectativas sobre o jovem de 21 anos são enormes e a pressão também, mas os primeiros sinais dados são extremamente convincentes. Morata também terá lugar cativo na frente de ataque depois de ter conquistado o seu espaço de forma progressiva na última temporada. Quando se sente confiante e acarinhado, o internacional espanhol é capaz de tudo. Proveniente do Atlético de Madrid, Mandzukic já provou ser um ponta-de-lança incansável sem bola e uma presença temível na área. Tudo indica que com menor ou maior dificuldade, ultrapassará a barreira dos 20 golos. O excêntrico Zaza completa a frente de ataque. Embora se perspective uma escassa utilização, o avançado – habitualmente titular na selecção italiana desde que Antonio Conte assumiu o comando da Squadra Azzura – encara este desafio com enorme confiança, ao ponto de ter solicitado a camisola 10, a mesma que pertenceu a Del Piero ou nos últimos dois anos a Tévez. Como é óbvio, a Juventus rejeitou este pedido, e nas poucas oportunidades a que terá direito, o internacional italiano procurará corresponder com golos. Llorente ainda não abandonou Turim, mas o seu anúncio não deverá tardar. Parte em desvantagem para os seus mais directos concorrentes até pela dificuldade que apresenta em ligar o jogo com os seus companheiros de equipa. A Juventus recrutou também o jovem Cerri, um dos pontas-de-lança mais promissores do futebol italiano, mas o seu destino deverá passar por um empréstimo.

Entradas: Kurzawa, Donsah, Nasri e Cuadrado.
Empréstimos: Tello, Coman e Cerri.
Saídas: Isla, De Ceglie e Llorente.

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar no VM aqui!): João Lains

Etiquetas: