Cinco factores que podem desequilibrar o Benfica-FC Porto

O jogo que opõe Benfica e FC Porto este Domingo pode perfeitamente decidir o título nacional. Uma vitória encarnada coloca um ponto final no campeonato, pois cavava uma distância de 6 pontos (mais 1 pela vantagem no confronto directo) ficando apenas 12 em disputa. O empate deixa tudo na mesma, embora na prática o Benfica aumentasse a diferença pontual para 4. Já uma vitória portista deixaria os rivais empatados, estando depois tudo resumido ao confronto directo (relembre-se que mesmo a derrota por um golo beneficia o Benfica) ou então, à diferença de golos, o que seria um cenário bem divertido, com todos os penalties, foras-de-jogo e golos com a mão a contar para o totobola. De qualquer modo, é quase como que de uma final se tratasse, um pouco à imagem do que aconteceu no Dragão há dois anos, e o perfeito final de temporada para uma Liga tudo menos emocionante, mas que por azares da sorte acaba por, mais uma vez, ter no final o confronto directo entre os dois únicos candidatos ao título por esta altura. Voltando atrás, o facto é que o Benfica sai na frente, pois não só tem vantagem pontual, como na prática três resultados lhe servem, e ainda tem o factor casa a seu favor. No início do ano, tendo em conta os movimentos de mercado, muitos pensariam que o cenário fosse o inverso, mas a verdade é que é o FC Porto que tem de recuperar. Seguem-se alguns tópicos que podem ajudar a explicar o porquê da actual classificação, na qual o Benfica tem todas as condições para se sagrar bi-campeão.

CORRER À FRENTE
Os encarnados lideram desde a 5ª jornada, o que não querendo dizer muito, significa que quem corre atrás vê a sua margem de erro diminuir a cada semana que passa, e aumenta a confiança de quem vai à frente. Verdade seja dita, o Porto teve a culpa de não ter corrigido (na sua perspectiva) essa situação, quando perdeu no Dragão frente ao Benfica, e posteriormente ao falhar na Choupana a aproximação. Mas o facto é que a liderança dá sempre confiança, e as jogadas de jogadores confiantes têm sempre a tendência a sair melhor. O Benfica também conseguiu manter-se na frente durante o período de menor fulgor, em que teve dificuldades em assegurar vitórias, o que deu o empurrão necessário para que não fosse preciso correr atrás do prejuízo posteriormente.

EUROPA/CALENDÁRIO
Jesus afirmou-o sem pudores desde o início: este Benfica não aguentaria jogar em várias frentes. Daí que não tenha espantado a abordagem a alguns jogos, como em Leverkusen, em que a equipa não jogou na sua máxima força. No plano oposto, o Porto sempre levou a Liga dos Campeões muito a sério, preferindo Lopetegui fazer poupanças na Liga Portuguesa, facto que lhe trouxe alguns dissabores. O Porto teve um calendário mais composto, e maior desgaste, não somente de jogos a meio da semana (o que logo perturba todo o processo de treino), mas também contando com deslocações e com a natural ansiedade de um jogador que tem os pés no Comendador Manuel Violas, mas já tem a cabeça no Allianz Arena. Certamente que veteranos como Jonas não chegariam tão fresquinhos a esta altura da temporada, fossem obrigados a outra sobrecarga de jogos, e mesmo homens como Gaitan ou Sálvio seriam sujeitos a outro desgaste. A prematura saída da cena europeia permitiu a Jesus criar um onze base, que ajuda a suprimir a falta de alternativas em algumas posições, e também a cimentar mecanismos vários.

EXPERIÊNCIA
Mesmo com todas as saídas, o Benfica conseguiu manter um núcleo de jogadores muito experientes, com muitos anos de Liga Portuguesa, e perfeitamente adaptados aos métodos e ideias do seu treinador. Já o Porto, criou uma equipa quase que se raíz, e muitos jogadores precisaram de se adaptar à nova realidade. Homens como Luisão ou Lima, têm muitos anos disto em cima, e fazem uso dessa experiência acumulada dentro de campo. O Benfica é a melhor equipa portuguesa a fazer aquilo a que se chama temporizar o jogo: sabem quando jogar depressa, quando parar as partidas, acelerar, queimar tempo, ter bola ou dar a posse ao adversário. Têm também um conhecimento único dos adversários, sabem como eles se comportam e reagem. os jogadores do Porto não têm na sua maioria essa capacidade; Oliver é demasiado jovem, Tello e Brahimi aparecem e desaparecem com facilidade, Quaresma continua a cometer erros de principiante. De referir ainda que não pode ser coincidência que, os dois melhores reforços do Benfica sejam dois trintões.

ESTRUTURA
Em certos aspectos o tempo não volta para trás, e a célebre estrutura do Porto não é o que foi. Numa altura em que o Benfica foi bafejado pela... vamos chamar sorte, o Porto manteve-se estranhamente calado. Em outros tempos, seriam entrevistas, declarações iradas, recados variados, a estrutura portista tentaria colocar pressão sobre árbitros, Liga, Justiça, Nações Unidas, tudo o que lhes pudesse dar vantagem. Já a estrutura benfiquista foi gerindo alguns dossiers, como a situação contratual de Jesus, com bastante perícia. Mas voltando ao Porto, as críticas aos supostos favores vieram tarde, e pela boca do treinador a quem, por ainda ser novato, as pessoas dão pouca atenção e credibilidade. O timing das queixas também deixou algo a desejar, pois falar de favorecimentos que aconteceram há semanas, ou meses, após uma derrota comprometedora e numa altura em que o Benfica atropelava oponentes, tem o mesmo resultado que pedalar em seco.

TREINADOR
Ambos os técnicos têm em comum o facto de não dominarem na perfeição a língua portuguesa, mas as semelhanças ficam-se por aqui. Lopetegui não é o Lopatego que muitos quiseram fazer crer, mas peca ainda em vários aspectos. A falta de experiência a este nível pesa em alguns momentos (a abordagem em Munique é um bom exemplo), e a sua adaptação ao futebol português também não está totalmente consolidada. No entanto, o espanhol tem os seus méritos, e conseguiu implementar algumas ideias de jogo interessantes. Porém, em termos práticos está muito, mas muito atrás de Jorge Jesus. O português conhece o campeonato nacional como poucos (ajuda entender a filosofia das equipas, os esquemas dentro, e também fora de campo), está ambientado ao futebol luso, no relvado e fora dele, usa de uma matreirice na abordagem a certas partidas com a qual o espanhol ainda só pode sonhar. Lopetegui cometeu alguns erros cruciais, como no empate caseiro com o Boavista, em que rodou toda a equipa, que prejudicaram o percurso do Porto, enquanto que Jesus, com mérito, sorte, ou ambos não tem vacilado. O modo como o Benfica alterna excelentes exibições caseiras com espectáculos medíocres, mas eficazes, nas deslocações, não são certamente obra do acaso.

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar com o VM aqui!): Nuno Ranito

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