As falsas oportunidades

Nas diversas e aprofundadas discussões sobre o desporto rei existe uma linha extremamente ténue entre a opinião racional e a opinião emocional. Este comentário pretende, exatamente, enveredar pela análise racional de toda a conjuntura em torno da polémica contratação de Adrián.

“Toda a gente é um génio. No entanto, se julgares um peixe pela sua habilidade de trepar uma árvore, ele vai viver toda a sua vida a acreditar que é estúpido.” Esta citação, da autoria de Albert Einstein, espelha, a meu ver, com precisão a situação que o internacional espanhol vem a atravessar desde o seu ingresso no FC Porto.

Sendo, por natura, o povo português impaciente, opinante e, mais que tudo, polémico, não é uma surpresa que, por todos os meios de comunicação, praças, cafés, tascas e tasquinhas do território luso, o internacional espanhol tenha sido apelidado de “flop”. Contra factos não há argumentos, e se é verdade que o espanhol não tem realizado exibições do calibre que era expectável, nem sequer foi capaz de se afirmar, até ao momento, como um elemento regular no onze dos dragões, também é verdade qual tal acontece por algum motivo, pois creio que, inconscientemente, a opinião pública terá cometido um erro de semântica. Será, na realidade, o atleta um “flop”? Ou será que o verdadeiro “flop” de toda esta novela terá sido o negócio levado a cabo pelo clube e, concomitantemente, o desejo do treinador em contar com o jogador no seu plantel?

Até à data, Adrián López realizou 9 jogos de dragão ao peito, 5 na liga portuguesa e 4 na liga milionária. No entanto, somente por 4 ocasiões figurou no onze inicial dos azuis e brancos. Nos restantes 5 jogos, Adrián não teve sequer direito a jogar 15 minutos em cada, saltando, quase sempre, do banco de suplentes quando o relógio já marcava os 80 minutos de jogo. Certamente, não podemos exigir ao espanhol que tenha impacto no jogo ou que mostre os seus melhores atributos quando, geralmente, dispõe de 5 a 10 minutos para deixar a sua marca.

No entanto, o mais grave de todo este panorama não diz respeito às falsas oportunidades de 10 minutos que Lopetegui concede ao jogador, mas sim ao papel que lhe é atribuído no terreno de jogo e na formação da equipa da cidade invicta. Das 9 partidas que efetuou, apenas por uma vez o espanhol atuou na sua posição de raiz, ou seja, nas costas do ponta-de-lança, como avançado de apoio – contra o Estoril, tendo feito a assistência para o primeiro golo dos dragões, antes de ser substituído aos 63 minutos –, tendo desempenhado a função de extremo nos restantes jogos. A meu ver, este é o elemento catalisador do mau momento de forma de jogador. Ao contrário de Tello, Quaresma e Brahimi, o espanhol não se apresenta como um jogador explosivo e veloz, nem nunca se destacou pela sua veia goleadora como muitos adeptos presumiam. As características que o destacam dos demais são, exatamente, a inteligência que demonstra nas decisões que toma dentro de campo e os movimentos posicionais oportunistas que efetua ao longo dos diversos momentos de jogo com o intuito de criar espaços para os seus colegas na última zona do terreno, características estas que são, de certo modo, antagónicas com a posição de extremo.

Tamanha incoerência leva-me, então, a questionar o porquê de Lopetegui ter solicitado à direção o concurso do jogador quando este não tem espaço no modelo de jogo concebido pelo treinador Basco!? Mais surpreendente ainda, é o facto da SAD do F.C. Porto ter dado aval à contratação do jogador por valores avultados, no contexto do futebol nacional, quando qualquer bom entendedor de futebol previa a eclosão deste dilema.

A acrescentar a esta adversidade temos ainda de considerar que Adrián começa, agora, a dar os primeiros passos numa competição bem diferente daquela a que estava habituado a disputar e está, por enquanto, a integrar-se na equipa e a inteirar-se da cultura futebolística portuguesa. Em Portugal, a experiência já devia ter munido os adeptos do desporto de uma maior capacidade de compreensão e, acima de tudo, tolerância face a novas caras. A paciência é uma virtude e já se mostrou fértil em diversos casos, cuja primeira época de certos jogadores não foi tão abonatória quanto seria esperado, e uma ou duas temporadas depois se assumem como figuras do campeonato [Enzo Pérez, Danilo, Lisandro López (FCP), Matic, David Luiz, etc.].

Parece-me que, mais uma vez, nos precipitamos a formar um juízo de valor, acabando por deturpar e questionar a qualidade de um jogador, que, no meio de tudo isto, é o maior sacrificado de todo o imbróglio em que está envolvido. Quem acompanhou a carreira de Adrián sabe perfeitamente o seu potencial e as mais-valias que pode oferecer a uma equipa. Todavia, esse expoente das suas capacidades só emerge quando este atua na sua zona de conforto, isto é, nas costas de um ponta-de-lança. Se pensarmos bem, não era por acaso que o espanhol era um importante suplente da equipa Colchonera que, sob a batuta de Simeone, venceu La Liga e se sagrou vice-campeã da Champions League.

Em suma, Adrián Lopéz foi aliciado a ingressar no F.C. Porto sob o pretexto de dispor de mais oportunidades e minutos do que aqueles que gozava no Vicente Caldéron. No entanto, a oportunidade de se assumir como titular na equipa saiu gorada pela inadequação do sistema tático da equipa à posição e às características do jogador, acabando os adeptos de futebol por serem as grandes vítimas do desfecho desta situação, que se vêm privados de se regalar com a verdadeira qualidade do internacional espanhol.

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar com o VM aqui!): Pedro Pateira

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