Se o Sporting marcar na Luz já será histórico

O primeiro clássico e derby da temporada não decide nada, mas vencer um jogo com esta carga emocional e histórica tem uma importância que vai para lá dos três pontos, nem que seja pela mensagem de força que passa para os adeptos de ambos os emblemas. Para os encarnados, a vitória é essencial, pois num campeonato tão fraco como o português (que é, por mais que estatísticas o desmintam), é crítico bater adversários directos e manter a invencibilidade caseira. Para mais, a história diz que não é boa política deixar o Porto descolar cedo (o ano passado foi atípico, e a excepção que confirma a regra). Para os leões, ficar a 5 pontos dos rivais seria desmoralizante, pelo que vencer, ou mesmo pontuar, na Luz serviria como um estímulo extra para uma temporada que não se iniciou conforme o desejado. Mas para tal, o Sporting tem de matar um velho e duro borrego, que é o de marcar na Luz para o campeonato, algo que não acontece desde 2007 (a juntar ao de não vencer desde 2006). Este jogo tem ainda uma particularidade: é a última partida antes do fecho de mercado, o que coloca sempre interrogações sobre quem vai a jogo, e em que condições mentais. Neste particular, Enzo e William são os casos mais falados. O argentino esteve com um pé em Valência, diz-se que o amigo de Singapura zangou-se com Luís Filipe Vieira, e que por isso afinal fica por cá mais um ano. O internacional português, é pretendido pelo Arsenal, que dará dinheiro, jogadores do melhor, ou então dinheiro mais jogadores. E como o futebol português precisa de sal, claro, teremos Jesus na área técnica, ou na linha lateral, conforme seja, depois de uma novela de Crime Sem Castigo, que deu e dará que falar nas televisões e intervalos de café no trabalho.  

E que Benfica teremos? Ao contrário do esperado há umas semanas, Artur deve guardar as redes dos campeões nacionais. Estes jogos podem decidir uma carreira, uma noite inspirada pode fazer esquecer pecados recentes, já uma falha comprometefora será certamente o livre-trânsito para Júlio César assumir o lugar de vez. A defesa ainda não sofreu qualquer golo em jogos oficiais, mas tem mostrado alguma dificuldade em bolas metidas em profundidade, algo que estará relacionado com a falta de velocidade de boa parte do sector (Maxi é de longe o mais rápido, mas não prima pelo posicionamento). O grego Samaris deve estrear-se, até pela ausência forçada de Amorim, dando a Jesus a envergadura física de que ele tanto gosta na posição 6. O futebol do Benfica passa muito pela pressão sobre os defesas contrários, o que obriga a que estes recorram aos passes longos, dando por isso jeito alguém que imponha o físico nas divididas. Assumindo que Enzo joga, e que Lima, Salvio e Gaitan são intocáveis, resta saber quem é o 11º homem. Talisca tem caído no goto de Jesus, e parece ser o seu pequeno projecto para este ano. O brasileiro pode equilibrar o meio-campo 3x3 (isto porque Gaitan fará possivelmente mais estragos pela esquerda), e trocar de posição com Gaitan, ou então o treinador mantém-se fiel ao seu modelo e atira Jara para o campo. De qualquer modo, os encarnados precisam não só de vencer, mas também de fazer uma exibição convincente, algo que ainda não aconteceu nesta Liga. A vitória na Supertaça e o arranque vitorioso não apagou de todo o turbulento defeso (resultados menos bons, os negócios, as contratações que já vieram e foram), pelo que o mínimo desaire perante o rival de sempre pode significar um rude golpe.

E quanto ao Sporting? Há algum tempo atrás poder-se-ia pensar que o Sporting ia à Luz com o 11 base de 2013/14, mas entretanto lesionou-se Cedric, e saiu Rojo. Os leões têm aqui um teste interessante: a campanha do ano passado, embora positiva, teve duas derrotas em duas deslocações aos campos dos directos rivais, o que levantou o debate de se o Sporting teria argumentos para se bater directamente com estes. Essa questão mantém-se e, embora uma vitória na Luz não chegue para encomendar as faixas, servirá para constatar que leões são tão fortes como águias. O segredo para um bom resultado passará por dois factores: capacidade de ter bola, algo que não aconteceu o ano passado, e eficácia ofensiva, não mostrada perante Académica e Arouca. Marco Silva, na sua estreia em jogos desta envergadura, não irá "surpreender" como fez Jardim, e deve manter a estrutura clássica de três médios. Com Carrillo e Nani certos, resta saber quem joga na frente, sendo que Montero é a opção natural. No entanto, dada a crise de golos por que passa o colombiano, o treinador pode apostar em Tanaka (aqui a falta de experiência pode ser um ponto contra) ou então na velocidade de Mané, o que daria ao Sporting um trio de velocistas na frente. Slimani, por tudo o que aconteceu e por ainda estar transferível (?), não deve ser opção, embora seja um ponto de referência diferente de qualquer uma das restantes opções de ataque. Na defesa, a dúvida é Esgaio (muito verde, passe o pleonasmo, vai ser atacado em força) em detrimento do indisponível Cedric. Por outro lado, o jovem pode obrigar, com as suas subidas, a trabalho extra dos extremos oponentes. Um ponto fraco dos leões é a saída de bola de Maurício, o que vai provocar muito chuto para frente (se não forem para fora), a não ser que William venha mais atrás iniciar o processo de construção. Por outro lado, este é o primeiro teste a sério para a dupla de centrais, que ainda não foi confrontada com adversários deste calibre, pelo que o jogo servirá para aferir da sua real capacidade. Adrien será o motor dos leões, para o bem ou para o mal, e pode até merecer atenção especial (Jesus já usou anteriormente uma espécie de marcação ao homem). O terceiro homem deve ser André Martins, embora o ainda inexperiente João Mário ofereça outra capacidade de passe (mas menos raça) e Mané traga mais progressão rápida com bola. Um ponto: pela primeira vez, desde há muito, o Sporting possui aquele que é, em teoria (EM TEORIA!!), o melhor jogador em campo, Nani. O extremo tem experiência nestes palcos, e a capacidade de decidir jogos individualmente, qualidade que pode fazer pender a balança em jogos mais fechados.       

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar no VM aqui!): Nuno Ranito

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