Vai começar mais uma edição da liga portuguesa de futebol. Para nós, apaixonados pelo jogo, é o momento mais aguardado depois de uma pausa que nos deixa quase sem saber o que fazer. Chegou a altura de vestir a camisola, colocar o cachecol e torcer como sempre! Mas fica a pergunta,
o que vale efectivamente a nossa Liga?
Segundo o ranking da UEFA, a liga portuguesa ocupa o 5º lugar entre as melhores da Europa, já com o 4º lugar assegurado em 2015 ultrapassando imagine-se, a toda poderosa liga italiana e apenas superada por Espanha, Alemanha e Inglaterra. Este ranking baseia-se sobretudo nos coeficientes dos resultados obtidos pelas equipas de cada país nas provas europeias em cada época desportiva, e a Liga Portuguesa tem capitalizado e de que maneira, os resultados fantásticos dos seus melhores clubes, com vitórias nas duas frentes por parte do Porto, e presenças assíduas em finais e fases adiantadas das principais competições por parte de Benfica, Sporting e Braga principalmente. Contudo, será este critério suficiente? Será mesmo que credível que a nossa liga periférica possa ombrear com a liga de um país da dimensão da França, ou contra o poderio económico dos russos e turcos?
E eis que surge na discussão o ranking da IFFHS, ou Federação Internacional de Estatística e História do Futebol. Este ranking de periodicidade anual, reflecte à escala global a valia das ligas usando um sistema de análise estatística. Nos desportos de raíz norte-americana o uso da estatística é de tal forma habitual, que faz parte diária do estudo do jogo. No último ranking da IFFHS, a Liga Portuguesa (5º da Uefa), aparece na 18ª posição, sendo apenas a 13ª a nível europeu, e estando atrás das ligas da Roménia, Suiça e República Checa e atrás por exemplo dessa liga "poderosa" do Paraguai...
Ou seja, vale o que vale.
Seria de todo lógico agregar ao factor resultados, outros factores que explicassem de forma mais abrangente qual a real valia das ligas, como o interesse mundial nos seus jogos, a capacidade financeira da liga e dos seus clubes, o número de espectadores nos estádios, o número de clubes de maior dimensão, a atractividade da liga ao nível das aquisições de jogadores e uma série de outros factores condicionantes para a competitividade das mesmas. Analisando tudo isto, parece evidente que existe uma Primeira Liga das ligas europeias e mundiais formada pelos campeonatos Inglês, Alemão e Espanhol (na minha opinião por esta ordem), onde dificilmente outra qualquer liga conseguirá entrar. E uma segunda divisão europeia formada pelas liga Italiana e Francesa, numa primeira fase, e pelas ligas de Portugal, Holanda e Turquia à escala europeia, e do Brasil e Argentina se olharmos para além da Europa. Para este lote, e considerando os critérios parece evidente que apenas as Ligas da Rússia e dos Estados Unidos têm potencial para crescerem muito mais do que a sua importância actual.
Olhando apenas para a nossa quintinha, e louvando os resultados excepcionais que as nossas equipas obtêm internacionalmente, é impossível crescermos muito mais enquanto não forem minimizados os efeitos de uma incrível desorganização da Liga (é quase surreal iniciarmos uma Liga, sem órgãos dirigentes eleitos), sem patrocínios, sem obtenção e distribuição de riqueza pelos clubes (a questão dos direitos televisivos é disso exemplo), com uma média de espectadores terceiro-mundista, e com os habituais casos de toda a espécie que em nada melhoram a qualidade do nosso futebol.
Fazer com que os clubes estejam mais próximos das suas populações, por forma a aumentar o número de espectadores, rever em baixa o preço dos bilhetes, negociar os direitos televisivos anualmente (para que os clubes não fiquem reféns de contratos lesivos e desajustados no tempo), promover a valia das nossa equipas e dos nossos jogadores, junto das empresas e no estrangeiro criando cada vez mais visibilidade para a nossa Liga, ter um sistema de justiça desportiva célere e eficaz e que não compactue com quem não cumpre, e acima de tudo ter uma Liga organizada e justa serão as missões para a próxima direcção da Liga e para os responsáveis dos clubes.
Qual será então a valia da nossa Liga?
Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar no VM aqui!): Flávio Trindade
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