Rúben Neves desafia o próprio plano portista para esta época

"Rendimento, desenvolvimento e recrutamento". As forças motrizes do projecto 'Visão 611' ganhavam fôlego naquelas três palavras de ordem. Com início no ano seis do século XXI (2006), com término programado para 2011 (daí o 611), a ideia, que se antecipava inovadora e frutífera no registo nacional, não passou de isso mesmo. O FC Porto recrutava selectivamente. O FC porto desenvolvia com um rigor quase militar, imune ao erro, num projecto que emanava uma aura semelhante às histórias dos EUA e a ficcionada capacidade em produzir super-atletas durante a guerra-fria, como o Capitão América. Mas os jogadores formados no FC Porto nesse período não renderam. No momento de avaliar resultados, não fica para memória futura um singular exemplo sequer de um 'super-atleta' saído de uma máquina com nome capaz de orgulhar qualquer escritor de ficção científica.

No entanto, o FC Porto continuou a ganhar. Com menor ou maior dificuldade, vencia, mas os lamúrios sobre a falta de um ícone saído da formação aumentavam de tom. O saudosos recordavam a aposta num Baía ainda sem duas dezenas de aniversários cumpridos, recordavam a audácia no lançar às feras do miúdo que se tornaria 'Bibota' e, para aqueles com mémória bem conservada, a loucura que foi aquele final dos anos setenta em que, de uma assentada, chegaram à equipa principal nomes como Seninho ou o endiabrado António Oliveira. Sérgio Oliveira, em 2009 e então com 17 anos, prometia acalmar os ânimos e recuperar a mística perdida, mas tem penado num Paços de Ferreira onde só brilhou sob a orientação de um ex-FC Porto. Coincidência, ou talvez não.

Este ano, após o esforço (semi-bem sucedido) dos últimos cinco anos do SL Benfica em quebrar a hegemonia azul e branca, o FC Porto investiu sem paralelo. Seria o ano em que qualquer portista se resignaria que, e sem rodeios, os meninos da formação teriam que esperar. Azar que o talento não espera ou anda de BI no bolso, e até a lesão de Mikel Agu, ainda na pré-época, parece indiciar que coisas como o destino não são invencão exclusiva dos filmes. Eis que surge Rúben Neves, totalmente em contra-ciclo com a anunciada aposta em pesos-pesados, ainda para mais com a urgência que a saída de Fernando exigiria. Joga, mas acima de tudo faz jogar, em alguém que já percebeu antes do prazo o que a posição mais requer.

O entusiasmo à volta desta versão do FC Porto é enorme, apesar da contradição em que assenta. Foi contratado um técnico com histórico interessante no futebol de base e, quando se pensava que o FC Porto aproveitaria a chegada do espanhol para potenciar os seus jovens, chega um contentor de (bons) jogadores feitos. Que por sua vez, alguns, são suplantados por um trinco que ainda anda com a casca de ovo na cabeça. Talvez Lopetegui ainda não saiba onde está. Talvez não consiga fugir aos seus compreensíveis instintos de pai profissional. A decisão está nas suas mãos, mas será bom que não se esqueça que, como qualquer Peter Parker basco, com um grande poder vem acoplada uma enorme responsabilidade.

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar no VM aqui!): A.Borges

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