O que têm em comum Peter Lim, Benfica e o FC Porto?

Jorge Mendes é o braço direito de Peter Lim, milionário de Singapura, na sua tentativa, ainda não consumada, de aquisição do Valencia. Da mesma forma, o super empresário negoceia ano após ano com os grandes portugueses, proporcionando aos clubes excelentes encaixes financeiros. É de tal forma frequente vermos os principais clubes nacionais no top das transferências mundiais época sim, época sim, que um olhar mais desatento ou alguém que observe este fenómeno de fora das fronteiras portuguesas, poderá pensar que os principais emblemas da nossa primeira Liga vivem tempos de fartura e de pujança financeira, completamente em contra ciclo com a actividade económica do país e até da Europa. Mas…

O cenário real é assustadoramente diferente! As contas dos três grandes portugueses mostram precisamente o contrário, e reflectidas numa outra qualquer actividade empresarial, faria destes clubes os próximos principais candidatos à apresentação de insolvência. Lógico que as justificações que emanam dos clubes para os seus sócios, é que a situação está completamente sobre controlo, porque os activos da sua pertença são mais que suficientes para fazer face aos gigantescos passivos. Em teoria isto até é verdade, mas na prática a sua execução seria quase como o liquidar absoluto dos clubes. Vencer a todo o custo, parece ser a máxima a seguir, e o endividamento (em tudo semelhante às políticas ruinosas que levaram o país à falência técnica e consequente intervenção da troika) a arma utilizada. Os clubes gastam sem excepção, muito acima das receitas fixas que conseguem arrecadar, as políticas salariais são totalmente desajustadas da realidade portuguesa, a aposta na formação é praticamente nula, mas tudo isso é validado desde que no fim da época chegue o tão almejado título nacional, ou uma presença nas finais europeias. Este sucesso desportivo dos nossos clubes (e que colocam Portugal numa posição no ranking da Uefa, bem mais acima do que países com Ligas financeiramente pujantes) é alicerçado por uma política financeira desastrosa e que mais cedo ou mais tarde levará o futebol português a tomar medidas drásticas. Desde as negociatas com empresários, muitos deles com idoneidade altamente duvidosa, passando pela hiper dependência da Banca (curioso como os três grandes portugueses são patrocinados pelo mesmo banco), até aos negócios da moda com os fundos de jogadores, que mais não são que sociedades off-shore da própria banca (vide BES nos casos do Benfica e Sporting e o BMG no caso do Porto) e grupos de empresários que se estão literalmente nas tintas para o futuro dos clubes, mas sim preocupados com os seus rendimentos que advêm das transferências. Michel Platini já mostrou a sua preocupação com estes negócios e a Uefa prepara-se para proibir os fundos no futebol.

Curiosamente, o Sporting aquando da entrada de Bruno de Carvalho começou a limpar a casa, no Benfica assiste-se a um desinvestimento na equipa de futebol e a direcção benfiquista irá liquidar o seu fundo de jogadores em Setembro deste ano, e até o Porto que está a ser o grande animador do mercado, inverteu a sua política de transferências e começou a apostar nos jogadores emprestados ou na compra directa. Coincidências?

Saliente-se que a Liga Inglesa onde é expressamente proibida a contratação de jogadores via fundos, é aquela onde se assiste a um maior número de aquisições por parte dos “sugar daddys”. Será que os adeptos do futebol português estarão preparados para o tempo das vacas magras que se avizinha? Será que estão preparados para uma cada vez maior aposta no produto oriundo da formação? Será que estão preparados para a perda de competitividade na Europa? Estas perguntas serão respondidas a pouco e pouco, e é aqui que aparece Peter Lim. Ficando secas as fontes de financiamento, e quando o mercado louco das transferências for regulado, deixando de estar à mercê de fundos/pessoas/investidores sem rosto, estarão os adeptos do futebol português preparados para terem à frente dos seus destinos um qualquer Sheik árabe, ou um bilionário russo? 

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar no VM aqui!): Flávio Trindade

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