FC Porto: E a culpa da crise é de...

A crise de uns é ombrear com Estoril e Rio Ave pela última vaga europeia, enquanto que a de outros passa por ser eliminado nos oitavos da Liga dos Campeões e ver o primeiro classificado ficar a 4 pontos de distância. Mas tirando o elemento de subjectividade inerente a esta discussão, é inegável que o Porto passa por, se não uma crise, pelo menos uma mini-crise. Um dos objectivos da temporada, ir longe na LC (e a posição no Pote 1 do sorteio inicial reforçava esse desejo) já foi, os últimos resultados colocaram em causa a conquista do campeonato, e o nível exibicional também tem deixado muito a desejar. Ora como esta conjuntura é rara para os lados do Dragão, convém escrever sobre o assunto, e apontar o principal culpado.

O alvo mais fácil, é Vítor Pereira. Afinal, o treinador é sempre o culpado das derrotas. As vitórias devem-se à qualidade dos jogadores, à estrutura, às arbitragens, à conjugação dos planetas aliada à direcção do vento (a não ser que o treinador seja um mestre da táctica ou um Special one, aí já terá algum meritozinho). O treinador é o responsável por colocar a equipa a jogar, motivar, etc, etc... mas VP, pesem todos os seus defeitos e lacunas, está longe de ser o principal culpado pelo estado actual da equipa. Então, quem será? Bem, existe um indivíduo que é o derradeiro artífice das múltiplas vitórias portistas, portanto... também será o principal culpado pelas derrotas. Pois, ele mesmo, o Presidente, Jorge Nuno Pinto da Costa. Bem, bem, não vale a pena enviarem comentários irados enumerando o número de títulos conquistados e evocando todas as suas façanhas, isso não foi nem será esquecido, e pessoalmente sempre achei que as (repetidas) notícias sobre a morte desportiva do Presidente portista foram claramente exageradas. Mas o facto é que num regime presidencialista, o presidente é o responsável máximo, certo? E parece também claro que a época menos conseguida do Porto advém mais de erros na constituição do plantel, do que propriamente de má gestão técnica.

Comecemos então pelo início: o plantel é curto. O Porto tem um enorme orçamento, e tinha reais aspirações na Liga Portuguesa e na Champions. Duas provas, uma delas extremamente exigente. Terá o plantel actual opções suficientes para gerir estas duas competições? A ideia que fica é de que se apostou em dois factores: o de que Porto iria descolar inicialmente da concorrência (leia-se Benfica), podendo assim gerir a Liga interna com à-vontade, e de que as lesões não iriam afectar as pedras basilares. Ora, nada disso aconteceu. Falemos então dos jogadores. Por exemplo, nas laterais não há opção aos titulares. Villas-Boas tinha Sapunaru e Álvaro Pereira, mais Fucile a desenrascar nos dois lados. E Vítor Pereira, quem tem? Centrais adaptados, ou jogadores da B. O meio campo é paradigmático. Bastou Moutinho falhar, e o castelo caiu. Ele não tem substituto à altura, e nem se pode dizer que Moutinho faça a diferença; simplesmente empresta uma capacidade de pressão e intensidade à linha média sem igual no conjunto azul e branco. No ataque, caso Jackson se tivesse lesionado, e era o caos... Mesmo nas alas, Varela é titular... sê-lo-ia no Benfica (por falar em Benfica, Cardozo, Lima e Rodrigo... três opções de qualidade. Porto: Jackson, e...)? E finalmente, James. Ora James, saindo Hulk (já lá vamos), ficou com o papel de desequilibrador. É o único que está num patamar de excelência que lhe permite decidir jogos dia sim, dia sim (é preciso comparar outra vez com as opções do Benfica?). Ora James magoou-se, e ainda não voltou a uma forma aceitável após regressar da mazela. Fica o Porto orfão de alguém que resolva quando o colectivo não funciona, e todos sabemos que é impossível o colectivo funcionar a 100% em todos os jogos de uma temporada desportiva. O mercado de Inverno podia ter remendado alguns pontos, mas isso não aconteceu. Izmailov é bom, sim senhor, mas mesmo depois de uns milagrosos cálices de Porto não mostra ter andamento para grandes cavalgadas (ainda vai dando para consumo interno, mas não mais que isso); já Liedson, nem entra quando o Porto precisa desesperadamente de meter uma bola na baliza. Ou seja, Janeiro não trouxe o necessário acréscimo de qualidade em termos de alternativas. E por fim, Hulk. Ora o Incrível saiu já após o fecho do plantel, e por vontade de quem? Do treinador? Foi decisão directiva, que deixou a equipa sem o seu melhor jogador, desequilibrador nato (ganhou muito jogo "sozinho") e sem hipótese de ser substituído. Ok, a esta altura já escrevem os leitores "ah mas e o Jesus perdeu o Witsel e inventou o Matic, mais o Enzo que não jogava, e o puto André Gomes"; calma... Jesus teve, para lá da sua capacidade, alguma sorte em que todas as peças enfiadas à pressa no puzzle encaixassem à primeira. Recuso-me a acreditar que ele dissesse "sim, podem vender o Javi e o Witsel que há cá melhor, à confiança". Saiu bem, apenas isso. Lembremo-nos das discussões logo após estes negócios, em que se debatia quem ficara mais enfraquecido. Convencidos de que James iria assumir a posição de "liderança" de Hulk, e de que Javi e Witsel não tinham substitutos à altura, parecia claro que o Benfica seria o que mais sofreria com as saídas. E se calhar, Pinto da Costa concordou, e pensou que o seu único rival ficara de tal modo enfraquecido que também ele pudesse apostar nesta roleta. Ou seja, tudo indica que, para lá do enorme investimento feito na equipa, alguns buracos ficaram por tapar, e existiu uma enorme fé em que tudo decorreria conforme o melhor cenário possível. Tal não aconteceu (lesões, desgaste, um Benfica muito forte desde o início), e por isso o Porto corre o risco de nada vencer (excepto aquele troféu de que não gostam) esta temporada. E a culpa é de...

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar no VM aqui!): Nuno Ranito

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