Fair Play Financeiro: Um "Novo Futebol" Europeu e Nacional

Em Setembro de 2009, o Comité Executivo da UEFA aprovou por unanimidade o conceito de "Fair Play Financeiro" para o bem-estar do futebol europeu de clubes. O objectivo deste conceito passa, essencialmente, por um controlo financeiro do futebol europeu em que os clubes estão inseridos e competem, com um olhar especial sobre os crescentes gastos dos clubes em salários e transferências. Num passado recente, muitos clubes têm apresentado prejuízos avultados (em matéria financeira) e as condições económicas a nível global não ajudam ao desenvolvimento e ao crescimento das receitas, o que provoca dívidas, atrasos de pagamentos a outros clubes, jogadores, funcionários, etc. Nesse sentido, a medida aprovada pela UEFA é um sistema de controlo das finanças dos clubes, com vista ao cumprimento de requisitos para a participação nas provas europeias. De uma forma sucinta, o conceito de Fair Play Financeiro tem um objectivo claro: as despesas dos clubes não podem ser superiores às receitas no conjunto das últimas três temporadas.

Esta é uma medida que se pode e deve aplaudir, e apenas peca por tardia. São conhecidos diversos clubes que esbanjam milhões atrás de milhões, e que apresentam prejuízo no final de cada temporada. Chelsea e Manchester City, por razões óbvias, são dois dos casos mais sonantes. Este "travão" financeiro imposto pela UEFA terá que ser cumprido, caso contrário existirão medidas severas para os infractores. Desde logo, existe a possibilidade de um clube infractor ser expulso da competição, embora seja a medida mais extrema e que deve ser evitada. Essencialmente, as penas passarão pela retirada de pontos ou a proibição de inscrição de jogadores, obrigando os clubes a apresentarem saldo positivo no final de cada temporada.

Portugal não será excepção à regra. Os clubes portugueses são, essencialmente, vendedores, sendo que o campeonato nacional é visto como um "trampolim" para voos mais altos. Os chamados "grandes" serão os mais visados, tendo em conta os seus gastos. Os passivos de FC Porto, Benfica e Sporting atingiram níveis históricos, e o saldo de ambos é francamente negativo. Nesse caso, será de esperar um maior controlo por parte dos clubes nacionais na hora de comprar e na quantidade que será despendida. Pelo menos, as contratações até ao momento apontam nesse sentido. O FC Porto contratou Fabiano e Stefanovic e, apesar dos valores não terem sido divulgados, são contratações de baixo custo. O Benfica tem apostado no mercado interno. Djaniny, Hugo Vieira e Paulo Lopes chegaram a custo 0, enquanto Michel e Luisinho chegaram por 1M€ (valor não confirmado). O lateral-esquerdo, Villarraga chega por empréstimo, e Ola John é o único que foge a esta política, pois custou 9M€. No Sporting, a única contratação até ao momento foi Labyad, e chega a Alvalade depois de terminar contrato com o PSV.

Em suma, o mercado nacional parece já estar condicionado pelo Fair Play Financeiro. Os negócios que se verificaram até ao momento revelam uma maior contenção dos gastos por parte dos clubes portugueses, pois as medidas impostas pela UEFA assim o obrigam. Até final, resta saber se esta política se irá manter ou tudo será esquecido na hora de reforçar cada plantel.

Até que ponto o Fair Play Financeiro irá condicionar os clubes portugueses? Esta é uma medida útil para o futebol? O futebol português irá decrescer no que a qualidade diz respeito? Conseguirão os clubes nacionais que competem nas competições europeias ombrear com equipas que possuem um maior desafogo financeiro?

A. Mesquita

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