Custou em 1984, em 1996, em 2000, em 2004 e em 2006 mas frente à Espanha em 2012 doeu mais...Com esta aposta zero nos jogadores nacionais por parte dos clubes portugueses a perspectiva (principalmente depois de 2016) é que Portugal esteja mais umas décadas sem colocar o seu nome no troféu de Campeão da Europa ou do Mundo

Custou em 1984 (mas aí Chalana tinha apenas 25 anos, aliás do 11 titular que foi eliminado no último minuto do prolongamento frente à França só Bento, Lima Pereira e Jordão tinham mais de 30 anos, o que dava boas perspectivas para o futuro...depois em 86 pelos motivos que se conhece não confirmaram isso) em 1996 (Poborsky acabou com o sonho mas era a geração de Ouro e os jogadores tinham na sua maioria 24/25 anos), em 2000 (foi o nosso melhor plantel numa fase final, a França novamente roubou-nos uma oportunidade única, mas era evidente que ainda podiam dar mais, aliás chegaram ao Mundial 2002 como uma das 3 principais favoritas), em 2004 (pelo contexto, mas apareceu Ronaldo nesse torneio e ficamos com a certeza que Portugal ia continuar a ser uma das melhores selecções do Mundo) e em 2006 (foi a última participação de Figo, voltamos a perder com a França, mas Ronaldo tinha apenas 21 anos, Deco, Carvalho, menos de 30 e começavam aparecer jogadores como Nani, Veloso, Moutinho e Manuel Fernandes) mas frente à Espanha em 2012 doeu mais. Não só por termos perdido uma oportunidade única (e histórica) de eliminar a campeã da Europa e do Mundo e marcar pela 2ª vez presença numa final de um Europeu, não só pela pouca sorte nas grandes penalidades, mas, principalmente, pela ideia (quase certeza) que o sonho de sermos campeões europeus ou mundiais está cada vez mais longe de alcançar. A partir de 2016, quando Ronaldo, Nani, Pepe, Moutinho, Veloso e Meireles, por exemplo, estiverem na casa dos 30 anos, as soluções serão muito poucas ou nenhumas, aliás, actualmente as alternativas a estes jogadores são quase nulas. Os clubes portugueses não apostam nos jogadores nacionais (o Braga é a boa excepção e demonstra que consegue ser na mesma competitivo), cada vez temos menos lusos em equipas de Top do futebol europeu (este cenário dificilmente vai mudar se os nossos elementos não forem potenciados em Portugal) e a jogar a um nível competitivo alto (liga dos campeões ou em clubes que lutem por títulos...algo que é determinante em fases finais de Europeus e Mundiais), e se com Ronaldo (sem ele a selecção já era mediana) não chegamos ao objectivo máximo, no futuro o cenário será certamente mais complicado. É certo que temos uma excelente geração nos sub-19, que elementos como André Martins, Pizzi, Nélson Oliveira, etc, demonstram qualidade (mas com a idade deles jogadores como Moutinho, Ronaldo, Nani, entre muitos outros já eram indiscutíveis nos seus clubes e certezas), no entanto, a tendência é que encontrem pouco espaço para evoluir e demonstrar o seu valor (os "grandes" querem resultados no imediato e cada vez possibilitam menos experiências).

Após a brilhante campanha no Mundial sub-20, pensava-se que estaria dado o mote para mudar a mentalidade dos dirigentes dos clubes portugueses, no que toca à contratação de jogadores e aposta no produto nacional, contudo, parece que aconteceu o contrário. Dos jogadores que fizeram parte da campanha portuguesa na Colômbia, poucos jogaram com regularidade nos principais campeonatos. A juntar a isso o FC Porto acabou novamente a temporada sem nenhum jogador português da sua formação no plantel (já tinha acontecido em 2011-12), e Moutinho, Varela e Rolando foram as únicas apostas nacionais. Já o Benfica, com a saída de Coentrão como seria expectável actuou 95% das partidas sem nenhum jogador português no 11 (Nélson Oliveira foi o único a contrariar este cenário, mas foi utilizado apenas alguns minutos). Por sua vez, o Sporting que era a excepção e de longe o melhor exemplo para o futebol nacional, não conseguiu resistir à tendência e contratou no defeso passado 19 jogadores (todos estrangeiros. Aliás na próxima temporada com a saída de João Pereira, Patrício poderá ser o único português regularmente no 11). Três clubes, três equipas que deviam ser exemplo para todas as outras a nível nacional, mas que com esta política estão a contribuir para uma falta de identidade do futebol português. No plano económico, está igualmente provado que o jogador português é dos que vende melhor no Mundo, como tal, esta aposta nula é uma má política de mercado (como querem vender jogadores como o Nani, Coentrão, Carvalho, se não apostarem neles?). Os outros clubes da Liga Zon-Sagres infelizmente dão continuidade a este flagelo e salvo algumas excepções o cenário é pouco animador. Como tal, parece-nos oportuno voltar referir o projecto que o Visão de Mercado elaborou para o futebol português e destacou em Setembro de 2010 (ler aqui), que repetiu em 2011 (ler aqui), e já mencionou igualmente este ano (ler aqui).

Soluções?

Visão de Mercado sugere algumas soluções a aplicar pela Liga de Clubes, como forma a reduzir esta invasão de jogadores extracomunitários. As medidas são na nossa perspectiva realistas e de acordo com os padrões do futebol português. A saber:
O número de inscrições na Liga ZON-Sagres fica fixado nos 27 jogadores, no entanto, desse número, pelo menos 5 jogadores terão que ter sido formados no clube (a mesma regra da UEFA: ter jogado pelo menos 3 anos no seu clube, entre os 15 e os 21 anos).
- Para equilibrar o número de jogadores portugueses no 11 inicial, sugerimos que obrigatoriamente em todos os jogos, as equipas coloquem 4 jogadores nacionais de inicio, como forma a que joguem pelo menos 64 portugueses no fim-de-semana desportivo. Esta medida (que como é óbvio seria gradual, ou seja no próximo ano 2, daqui a 2 anos ter de utilizar 3, até que em 2015 teria a obrigação dos 4 portugueses), obrigaria os clubes nacionais a terem um plantel com pelo menos 10-12 jogadores nacionais, como forma de prevenir qualquer lesão ou castigo. Recordamos que por exemplo no campeonato russo há uma obrigatoriedade de as equipas apresentarem 6 jogadores russos no 11.
Limitar as transferencias de jogadores do exterior para 8 ou 10 (desde que pelos menos 5 deles sejam internacionais por qualquer escalão de formação do seu país). Esta medida visa reforçar as trocas internas, fomentando a circulação interna do dinheiro e maior equilíbrio das contas dos clubes.
- Quanto à limitação de jogadores extracomunitários, consideramos essa medida um pouco xenófoba, preferindo a obrigatoriedade de utilizar jogadores nacionais, em vez de restringir a entrada de extracomunitários.

Em relação à II Liga, seria também razoável implementar a obrigatoriedade de inscrever mais jogadores portugueses (pelo menos 14 jogadores em 27, 5 jogadores da formação e 5 jogadores no onze inicial). Quanto aos escalões de formação, seria importante obrigar os clubes a utilizar pelo menos 8 jogadores nacionais no onze inicial, como forma de fomentar a formação de jogadores portugueses. É lamentável não conseguirmos estar de maneira assídua nas grandes competições juvenis (o último Mundial sub-20 foi a excepção), e pela forma como países como a Alemanha, Bélgica, França, Espanha e até a Inglaterra estão a trabalhar há muito perdemos o estatuto de potência ao nível da formação. Por último, no que diz respeito às equipas B devia haver um cariz obrigatório de só poder inscrever no máximo 5 estrangeiros.

PS - Caso os 4 principais clubes nacionais utilizassem regularmente pelo menos 4 jogadores nacionais de inicio, formariam uma boa base de apoio para a selecção nacional, pois seriam 16 jogadores em competição acesa na Liga Nacional, e quem sabe nas Competições Europeias. Quem ficava a ganhar era a selecção nacional!

Que medidas equaciona para uma melhoria do nosso futebol? O que acrescentaria ou retirava às ideias do Visão de Mercado para permitir evoluir a nossa Liga em termos de sustentabilidade dos clubes, indirectamente ajudar o futuro da nossa selecção, e para dar mais condições ao jogador português? Recordamos que em 2004 (parece que foi há um século, mas foi há meia dúzia de anos) o Porto de Mourinho venceu a Liga dos Campeões com 9/10 portugueses a jogar assíduamente, como tal, a ideia de os clubes só poderem ser mais competitivos com jogadores estrangeiros não faz sentido. E se os nossos melhores querem sair, ao menos que se criem condições para outros apareceram e mostrar o seu valor...e para isso só actuando com regularidade. Poderá Portugal estar a correr sérios riscos em termos de afirmação da nossa selecção no futuro?

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