Guardiola: O treinador que "pegou" num Barcelona que tinha ficado em 3º na Liga (a 18 pontos do Real), e em 3 anos fez dos catalães o maior "papão" da história

Josep Guardiola i Sala, 41 anos, o treinador do momento. No primeiro olhar, seja de um amante do futebol, ou de alguém a quem nada diz o nome, a imagem será sempre a mesma: um homem elegante, com postura, um verdadeiro gentleman. Mas Guardiola é muito mais do que isso, ele será porventura o mais digno representante de uma região. Ora vejamos, nasceu em Santpedor, pequeno município pertencente à comunidade autónoma da Catalunha, chegou ao Barcelona para as camadas jovens com 13 anos e lá permaneceu até 2002, ano em que saiu para jogar em Itália. Envergou durante várias épocas a braçadeira de capitão dos blaugrana, cresceu e viveu com a cultura catalã no seu sangue, os princípios, a "luta contra Madrid" pela independência, o respeito pela bandeira, o orgulho em ser um culé. Aliado ao facto de ter tido como treinadores Johan Cruyff, Bobby Robson e Louis van Gaal, as suas derradeiras épocas enquanto futebolista em campeonatos mais exóticos (Qatar e México), permitiram-lhe conhecer culturas e estilos de jogo diferentes.

No dia 21 de Junho de 2007, "regressa a casa", para assumir o comando técnico da equipa B do Barcelona. Posteriormente, na época 2008/2009 substitui Frank Rijkaard na equipa principal, após uma época desastrosa, onde acabaram o campeonato na 3ª posição a dez pontos do Villarreal e a dezoito do eterno rival, Real Madrid. Guardiola não tardou em deixar a sua marca, colocou na lista de dispensas jogadores consagrados como Zambrotta, Ronaldinho, Thiago Motta, Deco e Thuram e começou a construir uma equipa à sua imagem, com uma constante aposta em jogadores da cantera, perfeitamente identificados com a cultura do clube e da região. Na primeira época faz o pleno, ganha todas as competições em que participa, é o início de uma era dourada na cidade condal. Neste momento contabiliza já um vasto currículo em apenas três épocas. São já duas Ligas dos Campeões, três Campeonatos de Espanha, três Supertaças, uma Taça do Rei, duas Supertaças Europeias e dois Campeonatos do Mundo de Clubes. Desde que assumiu o comando técnico do Barcelona, apenas perdeu três competições (Taça do Rei por duas vezes e uma Champions). Apresenta um nível técnico-táctico brilhante, dá a ideia de ser capaz de colocar a sua equipa a jogar ao melhor nível em qualquer sistema táctico. Já o vimos jogar em 3-4-3, 3-7-0, 4-3-3, entre outros sistemas, e sempre com percentagens de posse de bola elevadíssimas e com autênticos "banhos de bola" aos adversários. É também exímio no factor psicológico, é impressionante o facto de conseguir sempre motivar uma equipa vencedora, os jogadores nunca parecem acomodados com os títulos já conquistados.

Mérito somente de Guardiola? A maior parte parte sim, sem dúvida, mas há algo mais. A um grande treinador, gestor e motivador de homens, alia-se uma estrutura exemplar, com a melhor escola de formação do mundo no momento. Tudo começou em 2003, quando Joan Laporta assumiu a presidência do clube. O Barcelona não tinha receitas ao nível dos clubes de topo e reinava uma grande desconfiança em relação a certos jogadores recém chegados como Rochemback ou Giovanni, por quem haviam sido despendidos muitos milhões de euros. Laporta e o seu braço direito, Ferran Soriano, um catalão com reconhecido sucesso na área empresarial, implementaram um conjunto de medidas que foram a base do que o clube é hoje. Aliados às máximas "més que un club" (mais que um clube) e "ser torcedor do Barça vai além do puramente desportivo. É um sentimento de raízes, de valores e de identidade de um país: a Catalunha", reaproximaram a cidade do clube e devolveram à região o que mais os orgulha: o seu clube no topo.
Seria possível o Barcelona ganhar sem Guardiola. Já o fez antes, irá fazê-lo no futuro. Mas seria um sucesso diferente, nunca tão dominador, nunca tão consensual, nunca tão brilhante, nunca tão duradouro. Podemos até duvidar que Messi, Xavi ou Piqué atingissem o nível exibicional de eleição durante um tão largo período caso tivessem outro "comandante". O que os catalães estão a fazer é histórico, estamos perante os anos de ouro do seu futebol, o surgimento de uma era.
Pep é um senhor dentro e fora dos relvados, a sua imagem, a sua capacidade de nunca perder o controlo das emoções, a sua perfeita identificação com o clube e a região, fazem dele...o homem certo no lugar certo.
Para quem quiser conhecer melhor a estrutura do clube catalão, bem como a mudança efectuada por Joan Laporta, recomenda-se a leitura do livro "A bola não entra por acaso", de Ferran Soriano.

Será que Guardiola nasceu para ser treinador do Barcelona? Até quando durará esta hegemonia? Que actuais jogadores do plantel catalão poderão ser treinadores do clube no futuro? Será José Mourinho o único capaz de lhe fazer frente?

A. Carvalho

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